maio 04, 2009

A senhora M.

Passam hoje cinquenta e cinco anos desde o dia em que nasceu. Este ano foi por pouco que não acumulou os festejos com o dia da Mãe, como costuma ser hábito.

A minha mãe tem muito medo que eu me magoe, que me desiludam, que me faltem ao que me prometeram. Deixa-me viver mas se pudesse levava-me enroscada debaixo das suas saias para garantir que o mundo não me leva a melhor. Foi da minha mãe que nasceu o meu idealismo, mesmo que ela agora tenha deixado de acreditar em muitas coisas. Houve alturas em que tive medo que a minha mãe tivesse desistido de mim, que tivesse definitivamente deixado de acreditar ou que não me perdoasse mais. Mas ela, que não sabe ser de outra maneira, sempre me amparou os golpes, mesmo que fingindo ignorá-los.

A minha mãe copiou uma composição minha (Um dia como uma bola de sabão) e levou para o trabalho. Queria mostrá-la a toda a gente porque tinha chorado quando a leu. Se calhar, gosto de escrever porque a minha mãe me animou sempre, mesmo quando acha que são tristes as coisas que eu escrevo. Da minha mãe também herdei uma espécie de costela anti-social: não dou confianças a desconhecidos, gosto de me meter na minha vida, exijo reciprocidade nas minhas relações. E não me importo, como ela, que me achem antipática - importante é conhecermos os nossos próprios limites.

Talvez por não ter sido sempre assim, a minha mãe não entende sempre que procuro a sua aprovação para tudo o que faço - tudo. Mesmo que sejam coisas insignificantes ou grandes acontecimentos (como os últimos, que me deixaram com a cabeça a andar à roda e o coração apertado), é importante, pelo menos, que ela saiba. E se aprovar, se achar que é uma boa decisão, se ficar (mesmo que) disfarçadamente feliz por mim, sinto-me muito melhor. Portanto, ela acumula muitas vezes o aniversário e o dia das Mães. Dois presentes não serão suficientes para todas as noites que a deixei sem dormir.

4 comentários:

P. disse...

(L)

Maria del Sol disse...

Pois eu não te achei nada antipática nem anti-social à primeira vista. Isso é tudo publicidade enganosa ;)

(E a tua mãe, se já tiver lido este post, estará a inundar Portalegre num imenso lago de baba embevecida :P)

Rabisco disse...

Muito gira esta forma de carinho...
Sabe bem lê-la!

=P

mafaldinha disse...

Antipática, a tua mãe? Pelo amor da santa!!! A tua mãe é um doce. Bom, tu também às vezes é preciso é conhecer-te :p (e a nós as duas custou-nos um bocadinho)

Beijinhos