As seen here.
Afinal de contas, parece que o Verão chegou hoje a esta cidade e já se pode sair à noite sem o casaco pelos ombros e já podemos sentar-nos na esplanada sem começar a tremer de frio quando a noite já vai longa e ir dançar deixa de ser uma desculpa para ficar quente e passa a ser apenas prazer. E com isto tudo, podemos ouvir falar de canais de televisão para condóminos, podemos ensinar como se massajam as costas sem nunca revelar onde foi que aprendemos a usar primeiro a força dos dedos e depois o arrepio do toque, podemos vasculhar na roupa do verões passados pelas camisolas de que já nos esquecemos (dos verões ninguém se esquece). E podemos estar deitados à beira da piscina, a cismar que às dez da manhã já estão quarenta graus e que a tarde vai acabar por nos matar de calor, enquanto o meu pequenino de quatro anos entra dentro de água sozinho pela primeira vez e não tem medo de pisar o chão da piscina. E, enquanto o calor lá fora derrete o alcatrão e enquanto os grilos e as cigarras cantam depois da noite escurecer, conversamos muito. Falamos pelos cotovelos, gastamos todas as palavras que poupámos durante a semana, enterramos o nosso tempo em conversas que nunca vão chegar a lado nenhum, esquecemos o calor e trocamos de assunto a cada cinco minutos. Mas nem o calor faz com que todas as palavras que tenho na minha cabeça se materializem na minha boca e, enquanto falo, ouço o eco das palavras que ficam, das palavras que podiam mudar tudo. Hei-de guardá-las para um dia melhor. Ou isso ou ficarão definitivamente por dizer.
* porque nem só de chatices são feitos os dias.
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