Um homem de cinquenta e um anos pisa o palco do Coliseu. A multidão, à visão do incontornável fato escuro e do bigode impecavelmente aparado, grita, como que dizendo que já ia sendo altura dele regressar. Há duas baterias em palco, há luzes entre o vermelho e o rosa a contrastarem com o negro do homem que se move agilmente entre os restantes membros da banda. Talvez por ser o primeiro concerto da digressão, o homem parece incansável e bem humorado. Apesar de não ser conversador, diz o suficiente para deixar o público à sua mercê. Faz dois encores, em que deixa o público escolher o que quer ouvir. A multidão abandona o Coliseu com um tranquilo ar de satisfação.
(Nunca fui a maior das fãs mas ensinaram-me a gostar dele. Por isso é que, quando ouvi a Red right hand e a Stagger Lee, estar ali fez sentido. São apenas duas músicas mas que trazem consigo duas caras e ainda mais recordações que parecia ter esquecido. Eram tempos de pura confusão e ideias desalinhadas, noites em que chegava a casa às sete da manhã e ficava no tapete da sala a ouvir música de olhos fechados. Eram noites em que ficava a fumar num parque infantil perto de casa, em que escrevia e recebia cartas sem saber exactamente o que estava a fazer. Eram tempos de sentimentos proibidos e pouco claros. Mas eram tempos profundamente empolgantes e pródigos em vontade de arriscar. Se a música dele não me trouxe mais nada, chegam-me estas memórias desconjuntadas, que começam num banco do Terreiro do Paço e terminam numa tasca suja do Bairro Alto. Portanto, gostando muito ou não, também faz um bocadinho parte de mim. E eu saí tranquila e com tímidas saudades daqueles olhos castanhos.)
(Nunca fui a maior das fãs mas ensinaram-me a gostar dele. Por isso é que, quando ouvi a Red right hand e a Stagger Lee, estar ali fez sentido. São apenas duas músicas mas que trazem consigo duas caras e ainda mais recordações que parecia ter esquecido. Eram tempos de pura confusão e ideias desalinhadas, noites em que chegava a casa às sete da manhã e ficava no tapete da sala a ouvir música de olhos fechados. Eram noites em que ficava a fumar num parque infantil perto de casa, em que escrevia e recebia cartas sem saber exactamente o que estava a fazer. Eram tempos de sentimentos proibidos e pouco claros. Mas eram tempos profundamente empolgantes e pródigos em vontade de arriscar. Se a música dele não me trouxe mais nada, chegam-me estas memórias desconjuntadas, que começam num banco do Terreiro do Paço e terminam numa tasca suja do Bairro Alto. Portanto, gostando muito ou não, também faz um bocadinho parte de mim. E eu saí tranquila e com tímidas saudades daqueles olhos castanhos.)
2 comentários:
Esse post trouxe-me à memória ideias que já tinha perdido!
Sim, adorei o concerto do Nick mesmo sem reconhecer este ultimo album que apenas ouvi duas vezes no carro no mesmo dia em que ele subiu ao palco.
Dig, Lazarus, Dig!
Mas sim, também no meu caso ele faz parte de um passado que apesar de não ser recente se apresenta como tal. Vivido, inesquecivel.
Mas na minha rotina actual nem me lembrei disso... talvez não quizesse...
E o teu texto podia ser meu... e isso é assutador!
:)
A música em mim tem esse efeito terapêutico: ajuda a esquecer mas também a convocar memórias. Não vale a pena contrariar - ela está sempre associada a qualquer momento da minha vida.
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