maio 06, 2009

Como (quase) pegar fogo a uma cozinha: guia rápido

Chega-se a casa com dois pares de sapatos encomendados e finalmente disponíveis num sítio altamente improvável. Pousa-se tudo e vai-se directo ao frigorífico tirar o frango para depois barrá-lo com uma mistura bombástica de picantes e salpicá-lo de sal, antes de o enfiar no forno.

Volta-se à sala para ligar o computador e ver se os sapatos servem. Já de olho no teclado, idealiza-se um artigo sobre coisas que se conhecem relativamente bem numa primeira incursão mais próxima do jornalismo do que a escrita de coração na boca. Adere-se, nos entretantos, àqueles tarifários de falar tudo o que se quiser por nada, venham ver!, é mesmo tudo à borla, para minimizar os impactos de longos minutos ao telefone e para descansar o coração. Sente-se o primeiro cheiro a queimado mas pensa-se que é a vizinha de trás a preparar o lume para assar peixe.

Escrevem-se as primeiras palavras, de sobrancelha empinada, com a vaga sensação de algo ali não está a correr bem. Mas, de repente, ocorre-nos que o que não corre bem é o intenso cheiro a queimado e vai-se à janela da cozinha espreitar. A caminho, repara-se que o forno deita fumo por todos os lados e soa o alarme! Abre-se o forno e repara-se que, colado às resistências, arde não mais do que... o livro de instruções do forno. Abre-se também um parêntesis para os auto-insultos enquanto se tenta apaziguar tudo com água. Convencida de que está tudo sobre controlo, volta-se ao lugar. Continua-se a despejar caracteres sobre a folha branca do processador de texto mas o fumo não abranda. Volta-se à cozinha e verifica-se que o livro continua a arder, em lume brando.

Já quase em modo de histeria, jogam-se canecas de água para cima das brasas e tenta-se respirar entre o fumo. Liga-se a ventoinha para tentar ventilar a casa inteira, sem sucesso. Ao telefone, ouve-se a voz que mais desejamos ouvir (especialmente em aflição) e sai-se de casa para evitar o monóxido de carbono. Explica-se à vizinha a imprudência. Volta-se, depois de muita conversa e sorrisos arrancados sem esforço. Maldize-se o dia em que se desejou frango assado.

Caramba. O livro de instruções do forno...

5 comentários:

Rabisco disse...

Ele há coisas que realmente...
A mim aconteceu também uma situação parecida já há alguns anos atrás...mas neste caso com uma fritadeira de batatas...
Até me queimei e tudo e mesmo depois de tomar banho, ainda tinha algumas saliências mascarradas...

Maldita sorte!
=P

K. disse...

O livro de instruçoes estava dentro do forno a arder??? LOL!

Uma vez tive que sacar do forno dois torresmos que antes tinham sido peixes porque a minha ex nao sabia usar o forno e pô-lo a toda a mecha! :D

cosmonauta disse...

Frango assado a valer é no "perus" da praça do chile ... fala quem sabem! ;)

Joana Real disse...

Se alguma vez tivesses lido o livro de instruçoes, nao o terias colocado de volta lá dentro, logo isso nao acontecia...mesmo o mais simples ás vezes pode dar problemas pelo simples facto de nao se ler:):)

Crama disse...

:D
O livro de instruções do forno dentro do dito!!!???
Lindo!
Olha que eu sou bom, mas admiro o trabalho alheio quando ele é bem feito!