Seriam umas cinco da tarde quando deixámos de pisar terra e se soltaram as amarras do veleiro. Éramos feitos de óculos de Sol e de cabelos desalinhados violentamente pelo vento, éramos casacos que começaram abertos e depressa se enroscaram nos nossos troncos fustigados pelo cheiro a rio. Falavam-se umas três línguas naquele barco mas era o espanhol que estava por todo o lado. Rio abaixo e rio acima, o estádio do Belenenses e o Cristo Rei, o Ginjal e a simetria da Praça do Comércio miravam-nos tranquilamente sem nos acenarem como os passageiros de outros barcos com que nos cruzávamos. Fazia-se música dos disparos da máquinas, da rotação das objectivas, da rouquidão do veleiro sobre o Tejo. Tomei nota de todos os sítios que quero ver, invejei as vistas de tantas águas furtadas e namorei a cidade ao longe. Ainda se sente a Primavera ao longe mas velejar ao Sol quase faz esquecer o frio.
* escrito num armazém nas margens do Tejo. M. e Jer viajaram a convite da Rua de Baixo, numa organização do Indie Lisboa.
* escrito num armazém nas margens do Tejo. M. e Jer viajaram a convite da Rua de Baixo, numa organização do Indie Lisboa.
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