Daqui a três semanas faço vinte e oito anos e sou uma anormal. Tenho casa própria, tenho um carro velho mas que anda, tenho saúde e amigos, viajo e vou a concertos, passeio e leio muito mas sou uma anormal. Porquê? Simplesmente porque tenho quase vinte e oito anos e não tenho namorado. Não sou eu que o penso, é toda a gente à minha volta. É a minha chefe que me aconselha a ir à PT procurar um rapaz jeitoso, sãos os pais das minhas amigas (que já casaram) que me olham com uma certa compaixão, são os amigos que pressionam. Mas sei que sou mesmo anormal quando a minha própria mãe já não acredita que algum dia vá conhecer alguém interessante. Porque, para toda a gente, a culpa é minha, eu é que não devia ser esta anormal que simplesmente não quer uma pessoa qualquer, que não precisa de uma relação de conveniência para se sentir menos só.
Eu devia arranjar um namorado. Mesmo que eu não o amasse ou que não suportasse os hábitos dele mas, pelo menos, se o arranjasse, podia encarar toda esta gente de frente e passava a ser como as outras. E eu até quero ser como as outras mas só quando chegar a altura certa. Só com um namorado é que os outros me podem imaginar feliz. Mesmo que ele me batesse ou fosse ignorante ou escondesse um segredo horrível ou desprezasse as mulheres ou só me quisesse por estar tão só como eu. Mas isso ninguém precisava de saber, bastava que me apresentasse com ele por aí. Francamente, já não sei o que está certo. Mas sei, quando ouço as pessoas falarem por aí, que sou uma anormal duma anormal.
Eu devia arranjar um namorado. Mesmo que eu não o amasse ou que não suportasse os hábitos dele mas, pelo menos, se o arranjasse, podia encarar toda esta gente de frente e passava a ser como as outras. E eu até quero ser como as outras mas só quando chegar a altura certa. Só com um namorado é que os outros me podem imaginar feliz. Mesmo que ele me batesse ou fosse ignorante ou escondesse um segredo horrível ou desprezasse as mulheres ou só me quisesse por estar tão só como eu. Mas isso ninguém precisava de saber, bastava que me apresentasse com ele por aí. Francamente, já não sei o que está certo. Mas sei, quando ouço as pessoas falarem por aí, que sou uma anormal duma anormal.