Passam cinquenta e três minutos das nove da manhã quando os óculos de sol me tapam as olheiras da noite de ontem. Deixei-os a todos mais cedo, antes que passassem dos planos à acção e acabássemos todos mergulhados clandestinamente num tanque qualquer. Queria saltar muros ou sentar-me num sítio qualquer sem iluminação, queria continuar a dançar os êxitos dos ABBA no bar onde já somos os últimos clientes. Mas ontem impus-me a reclusão.
Passam cinquenta e seis minutos das nove da manhã quando compro o meu bilhete de dois euros e escolho uma espreguiçadeira na minha piscina favorita de todos os tempos, com vista sobre a serra e sobre os retalhos cultivados que se estendem até onde esta névoa do calor deixa ver. Hoje o céu já não está azul, está queimado pelas temperaturas altas. E, quando passam dois minutos das dez da manhã e eu mergulho pela primeira vez, estão seguramente mais de trinta graus. O calor mistura-se com a água, que está tépida ao primeiro toque. Há tantas caras conhecidas para quem me tornei uma estranha, uma visita de passagem, aquela cuja vida não passa de um enorme ponto de interrogação. Pela primeira vez, quando passam cinquenta e dois minutos das dez da manhã, ouço a expressão de pena do dia (Ah mas vieste sozinha? Pois... Que pena não teres companhia...), como se não pudesse gostar de estar sozinha.
Passam quarenta e dois minutos das sete da tarde e penso na minha casa vazia em Lisboa. Tenho saudades da Lapa mas não estou certa de já ter vontade de voltar. Está calor, tenho os meus amigos e a minha família aqui. Só não consigo evitar pensar naquele silêncio do meu corredor - estou continuamente dividida.
Passam cinquenta e seis minutos das nove da manhã quando compro o meu bilhete de dois euros e escolho uma espreguiçadeira na minha piscina favorita de todos os tempos, com vista sobre a serra e sobre os retalhos cultivados que se estendem até onde esta névoa do calor deixa ver. Hoje o céu já não está azul, está queimado pelas temperaturas altas. E, quando passam dois minutos das dez da manhã e eu mergulho pela primeira vez, estão seguramente mais de trinta graus. O calor mistura-se com a água, que está tépida ao primeiro toque. Há tantas caras conhecidas para quem me tornei uma estranha, uma visita de passagem, aquela cuja vida não passa de um enorme ponto de interrogação. Pela primeira vez, quando passam cinquenta e dois minutos das dez da manhã, ouço a expressão de pena do dia (Ah mas vieste sozinha? Pois... Que pena não teres companhia...), como se não pudesse gostar de estar sozinha.
Passam quarenta e dois minutos das sete da tarde e penso na minha casa vazia em Lisboa. Tenho saudades da Lapa mas não estou certa de já ter vontade de voltar. Está calor, tenho os meus amigos e a minha família aqui. Só não consigo evitar pensar naquele silêncio do meu corredor - estou continuamente dividida.
4 comentários:
Ir sozinha à praia ou à piscina é maravilhoso. Como eu te compreendo. Muitas pessoas têm medo de estar sozinhas com elas próprias, têm medo do que vão encontrar e por isso fogem.
Há momentos em que SÓ a nossa companhia é boa. Há momentos, dias e pessoas que nunca vão conseuir compreender isso.
Beijinhos*
Os silêncios dos nossos corredores sao necessários para que também eles possam sentir a ausência das nossas vozes, e dos nossos corpos que os atravessam. :)
Nao tenhas saudades do futuro, deixa que o presente se funda na canícula alentejana e entao verás com clareza os próximos passos.
Beijo.
por vezes mesmo que a nossa vida seja feita num lugar da-nos vontade de ir a descoberta de mais =)
beijinho
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