It's not me, I am pretending.
I'm not saved, he turned me down *.
Vi-o primeiro quando entregava as malas no check-in, não sei em que data nem para onde viajava. Os movimentos dele eram nervosos, como se o desconforto dos aeroportos o obrigasse a estar em constante deslocação. Vestia um fato escuro mas levava a gravata na mão que não segurava a leve mala de viagem. Imaginei-o diplomata, director, correspondente de um jornal mas a minha cabeça queria acreditar que era um toureiro. Tinha aquelas feições moldadas pela afronta, pela entrega diária ao prazer. Escrupulosamente escanhoado, o cabelo preto puxado para trás com uma noz de gel que já tinha preguiça, olhava vagarosamente para a fila que parecia nunca diminuir. Tinha aquele olhar vagamente triste e afectado, o olhar que se recusa a ser surpreendido, a viver ainda mais, uns olhos castanhos muito escuros e amendoados.
Da segunda vez que o vi, já estávamos dentro do autocarro que fazia a ligação do terminal ao avião: íamos fazer a mesma viagem, certamente com propósitos muito diferentes. Encostou-se a uma das portas enquanto desligava o telemóvel. Era um homem não muito alto, os ombros não tão largos como os do rapaz que se tinha encostado ao seu lado. Era muito moreno mas não tinha a cor de solário ou de férias - era simplesmente moreno. Em frente a ele, e muito diferente das mulheres que já amou, estava eu, que o estudava discretamente e imaginava, nesta viagem tão curta, como ele me convidava para beber um copo de vinho tinto e como falávamos sem precisar de palavras. Imaginava uma tarde de Verão numa cidade histórica e as suas mãos cuidadas desviando o cabelo do meu pescoço, enquanto me olhava com uma calma que me assustava, com a tranquilidade das certezas. Ambos teríamos um avião para apanhar e, quando nos separássemos a caminho do aeroporto, saberíamos que era aquela falta de voz que nos ligava.
Subiu rapidamente as escadas para o avião, enquanto consultava o relógio uma última vez. Eu guardei a minha bagagem e, enquanto apertava o cinto, pensei que, mesmo querendo, nunca poderia esquecer uns olhos assim.
* a render-me, finalmente, aos encantos da menina Chan.
I'm not saved, he turned me down *.
Vi-o primeiro quando entregava as malas no check-in, não sei em que data nem para onde viajava. Os movimentos dele eram nervosos, como se o desconforto dos aeroportos o obrigasse a estar em constante deslocação. Vestia um fato escuro mas levava a gravata na mão que não segurava a leve mala de viagem. Imaginei-o diplomata, director, correspondente de um jornal mas a minha cabeça queria acreditar que era um toureiro. Tinha aquelas feições moldadas pela afronta, pela entrega diária ao prazer. Escrupulosamente escanhoado, o cabelo preto puxado para trás com uma noz de gel que já tinha preguiça, olhava vagarosamente para a fila que parecia nunca diminuir. Tinha aquele olhar vagamente triste e afectado, o olhar que se recusa a ser surpreendido, a viver ainda mais, uns olhos castanhos muito escuros e amendoados.
Da segunda vez que o vi, já estávamos dentro do autocarro que fazia a ligação do terminal ao avião: íamos fazer a mesma viagem, certamente com propósitos muito diferentes. Encostou-se a uma das portas enquanto desligava o telemóvel. Era um homem não muito alto, os ombros não tão largos como os do rapaz que se tinha encostado ao seu lado. Era muito moreno mas não tinha a cor de solário ou de férias - era simplesmente moreno. Em frente a ele, e muito diferente das mulheres que já amou, estava eu, que o estudava discretamente e imaginava, nesta viagem tão curta, como ele me convidava para beber um copo de vinho tinto e como falávamos sem precisar de palavras. Imaginava uma tarde de Verão numa cidade histórica e as suas mãos cuidadas desviando o cabelo do meu pescoço, enquanto me olhava com uma calma que me assustava, com a tranquilidade das certezas. Ambos teríamos um avião para apanhar e, quando nos separássemos a caminho do aeroporto, saberíamos que era aquela falta de voz que nos ligava.
Subiu rapidamente as escadas para o avião, enquanto consultava o relógio uma última vez. Eu guardei a minha bagagem e, enquanto apertava o cinto, pensei que, mesmo querendo, nunca poderia esquecer uns olhos assim.
* a render-me, finalmente, aos encantos da menina Chan.
5 comentários:
texto fantástico! escrito de uma forma brutal!! fará todas as mulheres quererem conhecer esse homem e a mim, querer sê-lo..
Ricardo Peixe
http://ajudaincondicional.blogspot.com/
para ler ao som de "You belong to me" cantado por Michael Buble. Não subestimar o rapaz, que é popularucho, mas sem intenção.
Já há alguns dias que tenho andado a visitar este blog, e cada vez gosto mais, mas este texto está muito bom mesmo, do melhor que se pode ler a blogosfera! Parabéns...
http://da-memimos.blogspot.com
Obrigada por tão simpáticos comentários :) Caras novas são sempre benvindas.
|b|, acho que tenho mais bacanóides pa ganhar... Depois mostro ;)
E EU NÃO GANHO COM O BUBLE?!
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