Depois de ver o jazz de fusão dos 4 Corners, saímos para ver ainda os Casino Royal (que vêm da Figueira da Foz e têm myspace aqui). Há todo um conceito atrás disto, a banda entra em cena e percebemos que se têm ideias por aqui. Hoje não era noite de cerveja, a música pedia qualquer coisa como um martini seco sobre uma esplanada da Côte d'Azur. Além disso, a neve que tinha caído durante a manhã gelara a cidade inteira - tinha chegado a noite de voltar ao gin tónico. A vocalista, minha homónima, dividiu-se entre loura e morena mas sempre com um olhar atrevido e uma voz potente. Não foi uma noite para dançar, apenas para não me esquecer que o frio veio para ficar. E o gin tónico também.
novembro 30, 2008
novembro 29, 2008
Cai neve e não é em Nova Iorque!
Mas a menina, como decidiu acordar um pouco mais tarde e fazer a viagem debaixo de chuva torrencial, só chega a tempo de olhar os restos dos flocos que ainda resistiam e de ver tímidas manchas brancas espalhadas pela serra. Está tanto frio mas os aquecedores estavam ligados, à minha espera. Mesmo que por pouco tempo, regressar é bom.
novembro 28, 2008
Em jeito de telegrama mas sem poupar nas palavras!
(Depois de um dia inteiro de formação com um simpático senhor que deixou para trás Inglaterra e assentou arraiais em Gibraltar, com quem partilhámos um dos piores almoços de sempre em que um bocado de plástico fingia ser o molho bechamel dumas migas de bacalhau; depois de correr para casa sem tempo de fazer a mala nem um lanche, apenas enfiar duas ou três tangerinas na mala e perder o eléctrico que devia levar-me ao meu destino; depois do largo de Camões estar às escuras durante mais de uma hora e nós no terceiro andar termos uma lanterna minúscula com que criámos o belíssimo ambiente da nossa conversa; depois da luz voltar e beber todo o chá que conseguia aguentar e fazer o esquema do primeiro -haverá mais?- filme que vou escrever; depois de comer uma bela bifana acompanhada de uma imperial ao balcão duma cervejaria em plena avenida da Liberdade, na bela companhia deste rapaz e ao lado de dois espanhóis que despachavam uma sapateira) fui ver os The Big Church of Fire ao Maxime.
E gostei muito do que vi mas a minha provecta idade já não me deixa aguentar espectáculos divididos em sete partes e no trabalho hoje não iam ter pena de mim. Aquelas moças que eles põem a dançar lá atrás... Que maravilha. Quero ser uma rainha da selva como elas e menear aqueles adereços todos como quem está a fazer a coisa mais natural do mundo.
E hoje queria ir dançar e beber cervejas frias na mais gelada cidade do meu coração mas a chuva lavou-me um bocadinho da vontade que tenho de conduzir no escuro e sobre lençóis de água. De maneiras que hoje descansarei, jantarei outra vez sozinha e colar-me-ei a um ecran qualquer. Exactamente a sexta-feira de que precisava.
Not.
novembro 25, 2008
I wish I was a better version of myself
Com o avançar da idade, julguei que aceitar a mudança, resignar-me a desiludir-me aos bocadinhos e resistir ao stress seriam coisas que surgiriam naturalmente. Não podia estar mais enganada. Especialmente em dias como o de hoje (em que deixo quase tudo por fazer na secretária, tento convencer pessoas a não se despedirem, tento envolver outras pessoas no trabalho para aligeirar o ambiente, passo a tarde em formação numa sala minúscula de hotel sem ar condicionado, estendo-me sobre os paralelos na rua Viriato - para prejuízo da minha perna e braço esquerdos-, volto ao escritório para resolver os pendentes, chego a casa quase duas horas depois do habitual e fico sem tempo ou vontade de correr), é muito difícil não vacilar um bocadinho.
Sou uma mulher adulta sem tolerância nenhuma à frustração. Sou fraquinha, se preferirem. E não há nenhuma formação no Mundo que me ensine a ser diferente. É só uma questão de saber disfarçar.
Sou uma mulher adulta sem tolerância nenhuma à frustração. Sou fraquinha, se preferirem. E não há nenhuma formação no Mundo que me ensine a ser diferente. É só uma questão de saber disfarçar.
novembro 24, 2008
novembro 23, 2008
novembro 22, 2008
La frontiere de l'aube
ANTES (de me sentar no King):
Não sei olhar para ti sem me comover com a maneira como desvias o cabelo naqueles dias ventosos em que pareço distante e em que me esqueço dela. Quando estamos longe, é exactamente este o momento que repito em segredo, é com esta imagem que me convenço que afinal ainda te quero, que o Outono sem ela é uma estação cheia de folhas douradas que revolvemos com a ponta dos nossos sapatos. Fechas os olhos quase timidamente enquanto levas a mão à cabeça e é tudo tão delicado que me sinto incrédulo - esta mulher tão bonita caminha comigo, eu podia amá-la se ela me incendiasse a todas as horas, se alternasse a candura com a luxúria de uma noite em branco. Quero-te mas deixo que o vento te mantenha segura, longe de mim, longe do meu desejo de te destruir os sonhos.
DEPOIS (de me sentar no King):
Meu amor, não sei se te hei-de chamar assim. Amo-te mas não te quero, não é por ti que entro naquele estado febril que me queima desmesuradamente, que me encharca os momentos mortos. Quero dizer-te adeus mas tu olhas-me com essa doçura tão grande, olhas-me sem pressa, como se o meu castigo fosse o teu amor por mim. Quero fixar a placidez com que encostas o teu rosto à almofada e a forma como encaixamos durante o sono, tu tranquila, eu consumido pela imagem dela. Quero que sejas o meu amor, quero ouvir-te dizê-lo e prometer que estarei para sempre junto de ti mas as palavras há muito que me deixaram e só sobrou o nome dela em delírio. Quero deitar-me devagar, a rua em alvoroço lá fora e a tua luminosidade como um foco de paz dentro do quarto. Mas quando fecho os olhos, tudo o que vejo são os cabelos louros dela e tudo o que sinto é a vertigem da saudade. Salva-me, se podes. Não podes.
Não sei olhar para ti sem me comover com a maneira como desvias o cabelo naqueles dias ventosos em que pareço distante e em que me esqueço dela. Quando estamos longe, é exactamente este o momento que repito em segredo, é com esta imagem que me convenço que afinal ainda te quero, que o Outono sem ela é uma estação cheia de folhas douradas que revolvemos com a ponta dos nossos sapatos. Fechas os olhos quase timidamente enquanto levas a mão à cabeça e é tudo tão delicado que me sinto incrédulo - esta mulher tão bonita caminha comigo, eu podia amá-la se ela me incendiasse a todas as horas, se alternasse a candura com a luxúria de uma noite em branco. Quero-te mas deixo que o vento te mantenha segura, longe de mim, longe do meu desejo de te destruir os sonhos.
DEPOIS (de me sentar no King):
Meu amor, não sei se te hei-de chamar assim. Amo-te mas não te quero, não é por ti que entro naquele estado febril que me queima desmesuradamente, que me encharca os momentos mortos. Quero dizer-te adeus mas tu olhas-me com essa doçura tão grande, olhas-me sem pressa, como se o meu castigo fosse o teu amor por mim. Quero fixar a placidez com que encostas o teu rosto à almofada e a forma como encaixamos durante o sono, tu tranquila, eu consumido pela imagem dela. Quero que sejas o meu amor, quero ouvir-te dizê-lo e prometer que estarei para sempre junto de ti mas as palavras há muito que me deixaram e só sobrou o nome dela em delírio. Quero deitar-me devagar, a rua em alvoroço lá fora e a tua luminosidade como um foco de paz dentro do quarto. Mas quando fecho os olhos, tudo o que vejo são os cabelos louros dela e tudo o que sinto é a vertigem da saudade. Salva-me, se podes. Não podes.
novembro 21, 2008
Sobre pessoas que nos conhecem bem *
Não desfazendo de outros presentes escolhidos, também eles, de forma cuidadosa, esta folha que vêem aqui em cima esteve no topo das minhas preferências deste ano. Foi-me enviada por correio azul directamente da zona de Loures e chegou mesmo, mesmo a horas. É, nada mais, nada menos, que a setlist do concerto dos Dead Combo em Portalegre, com a dedicatória dos artistas à menina aniversariante. Tirando o facto de ambos escreverem o meu nome com z, foi uma prenda mesmo bem sacada. E portanto acho que renderam todas as noites que passámos a conversar no agora moribundo IRC e todos os CD's que me levavas para ver se gostava e as conversas intermináveis à porta do Crisfal à rasquinha para ir à casa de banho. Contigo é tudo simples e a conversa nunca morre. Por isso é que são 11 years and counting, compadre.
*e sim, juro que agora acabou a graxa. Definitivamente.
*e sim, juro que agora acabou a graxa. Definitivamente.
novembro 19, 2008
novembro 18, 2008
Estado em que se encontra este blog *
[...]
But
if each day,
each hour,
you feel that you are destined for me
with implacable sweetness,
if each day a flower
climbs up to your lips to seek me,
ah my love, ah my own,
in me all that fire is repeated,
in me nothing is extinguished or forgotten
[...]
But
if each day,
each hour,
you feel that you are destined for me
with implacable sweetness,
if each day a flower
climbs up to your lips to seek me,
ah my love, ah my own,
in me all that fire is repeated,
in me nothing is extinguished or forgotten
[...]
* imerso em trabalho durante o dia, afogado na poesia de Neruda durante a noite. Se me dão cinco segundos em que não tenho que me concentrar, perco-me indefinidamente em recordações. Ainda me custa o silêncio e a semana anterior não é muitas vezes mais que um borrão que tento (à força) resgatar das garras de memória que a insiste em ignorar. Mas resisto e assim travo todos os suspiros que sinto formarem-se no meu peito.
novembro 16, 2008
Jana Hunter + Beach House @ CAEP
(Não há grande coisa a dizer. Apenas que foi a última noite antes de voltar à vida, depois de andar mais de uma semana completamente afastada do mundo real, abrigada pelas asas dos pais e presa por um país inteiro. Talvez seja disto que preciso, de acordar sempre à mesma hora, de não conseguir ordenar as minhas prioridades diariamente, de não ter tempo. Os dias livres trouxeram-me a calma mas agudizaram-me a melancolia. Não há nada que me arranque aquelas imagens da cabeça.)
novembro 15, 2008
I'd rather be dancing with you
Precisava definitivamente de me distrair e consegui da forma mais simples que conheço: música. Primeiro, música para ver; depois, música para conversar e, finalmente, música para dançar. Enquanto o som está alto, tenho menos espaço na cabeça para pensar e liberto o resto do corpo para a dança. Numa discoteca quase vazia, fui rainha da pista ao som dos Metallica e dos AC/DC - era como se tivesse catorze anos de novo. Aliviada pelo som, deitei-me pela primeira vez em dias sem pensar em nada. Deitei-me e dormi. Não quer dizer que doa menos, só significa que hei-de conseguir manipular a dor.
(na foto, a Digei Nossa Senhora, responsável por parte deste alívio)
(na foto, a Digei Nossa Senhora, responsável por parte deste alívio)
novembro 13, 2008
Ver nacer el dia en Bruselas *
Sem esforço, consigo ainda ouvir o som do teu riso ou perceber que tentas inventar qualquer coisa para me fazer rir. Insistes que podia cantar jazz, enquanto eu desminto e digo que não sei cantar nada mas tu achas que nunca experimentei e dizes que gostas da minha voz, gostas da música que faço quando falo. As nossas conversas são cascatas de curiosidade que correm sobre olhos que fazem perguntas em silêncio, que dizem tudo o que só conseguimos dizer quando estamos sós. Respondo a todas as tuas perguntas sem sequer pensar no que digo, só para te satisfazer, só para falar em círculos, só para evitar que as coisas se precipitem.
Há um mapa-mundi que me mostra a distância que sempre nos separou e aquela que se colocou entre nós agora. Eu olho seriamente para ele, como se pudesse antecipar esta sensação de abismo em que nos envolvemos. Mas logo o teu cabelo preto me prende a atenção e logo as tuas mãos ossudas e pequenas me distraem e logo os teus olhos se prendem nos meus tão demoradamente e está calor enquanto o vento uiva e abre repentinamente a janela. As horas parecem intermináveis enquanto me abraças com tanta força e te levantas e pegas na tua caneca de chá e matas a sede, são infinitos minutos a saber o que estamos a perder, uma pequena eternidade tentando gravar todas as memórias em que nos enrolamos devagar. Fingimos que amanhã vai ser igual e depois de amanhã vamos estar no mesmo sítio para aliviar o sufoco da saudade que já ataca mas sem grande sucesso. Enquanto o dia nasce, enquanto a claridade transforma os nosso olhos em pequenas pérolas negras, despedimo-nos o mais serenamente que conseguimos. Sem olhar para trás uma única vez, sob pena de nunca mais conseguir ir embora.
Não me interessa o que fazemos a seguir. Eu não vou esquecer.
*ou carta a J., mi estrella invisible
Há um mapa-mundi que me mostra a distância que sempre nos separou e aquela que se colocou entre nós agora. Eu olho seriamente para ele, como se pudesse antecipar esta sensação de abismo em que nos envolvemos. Mas logo o teu cabelo preto me prende a atenção e logo as tuas mãos ossudas e pequenas me distraem e logo os teus olhos se prendem nos meus tão demoradamente e está calor enquanto o vento uiva e abre repentinamente a janela. As horas parecem intermináveis enquanto me abraças com tanta força e te levantas e pegas na tua caneca de chá e matas a sede, são infinitos minutos a saber o que estamos a perder, uma pequena eternidade tentando gravar todas as memórias em que nos enrolamos devagar. Fingimos que amanhã vai ser igual e depois de amanhã vamos estar no mesmo sítio para aliviar o sufoco da saudade que já ataca mas sem grande sucesso. Enquanto o dia nasce, enquanto a claridade transforma os nosso olhos em pequenas pérolas negras, despedimo-nos o mais serenamente que conseguimos. Sem olhar para trás uma única vez, sob pena de nunca mais conseguir ir embora.
Não me interessa o que fazemos a seguir. Eu não vou esquecer.
*ou carta a J., mi estrella invisible
novembro 12, 2008
Lisboa-Bruxelas-Gent-Lisboa *
Preparo a menor mala que consigo para não me atrapalhar e deixo uma Lisboa chuvosa para trás. É uma eternidade que demoro até chegar ao meu destino, horas perdidas num aeroporto cuidadosamente desenhado e assustadoramente silencioso em que quase consigo ler um livro duma assentada só.
Bruxelas espera-me com o seu tempo instável e frio, a lembrar-me que aqui o Sol é realmente uma preciosidade. Pouso as malas e levam-me a jantar a um restaurante português feio e mal decorado mas com o melhor e mais original bitoque de que há memória. Atravessamos a Grand Place toda iluminada. A noite passa-se entre este sítio aqui e uma discoteca com os piores êxitos dos últimos tempos, onde nem a cerveja pesada faz esquecer a fraca performance do DJ. Conheço pessoas novas, tanta gente do Mediterrâneo e revejo caras conhecidas, sempre a oscilar entre duas ou três línguas diferentes.
Fazemos um piquenique no parque, apenas interrompido pelo vento gelado que estragava aquele dia de Sol. Levam-me a um vigésimo primeiro andar com a vista mais maravilhosa da cidade e eu tremo com as vertigens antes de dormir a sesta numa cama até agora desconhecida. Janto pela primeira vez num restaurante africano, onde como as mais deliciosas asas de frango de todo o sempre e onde quase acabamos a dançar. Festejo os anos de alguém que não conheço e somos nós, os portugueses, que vamos tomando conta da música, alternando entre a playlist da anfitriã e as recordações de outras décadas.
Apanhamos um comboio e, meia hora depois, chegamos a uma Gent aparentemente abandonada e demasiado fria. Andamos, andamos e andamos, às vezes debaixo de uma chuva nervosa, da qual fugimos para uma cerveja e um capuccino que demoram a chegar. Fazemos concursos para ver quem consegue fazer a cara mais séria e eu perco sem apelo. Baptizamo-nos de Toppo Giggio e o Coco Pops depois de fazermos mais concursos absurdos.
Posso ser analfabeta funcional porque não saber ler uma reserva de voo acabou a custar-me muito dinheiro. Corro, quase desfalecendo, entre terminais no aeroporto de Madrid, certa de que o pesadelo ainda estava longe de acabar. Mas tudo o que quero mesmo recordar está guardado, trancado dentro da sua própria impossibilidade, condenado a nunca se repetir. Quando pouso as malas em casa, enfio-me de imediato debaixo do chuveiro e, ao contrário de todos os outros regressos, não é alívio aquilo que sinto hoje.
*mais fotos, como sempre, aqui.
Bruxelas espera-me com o seu tempo instável e frio, a lembrar-me que aqui o Sol é realmente uma preciosidade. Pouso as malas e levam-me a jantar a um restaurante português feio e mal decorado mas com o melhor e mais original bitoque de que há memória. Atravessamos a Grand Place toda iluminada. A noite passa-se entre este sítio aqui e uma discoteca com os piores êxitos dos últimos tempos, onde nem a cerveja pesada faz esquecer a fraca performance do DJ. Conheço pessoas novas, tanta gente do Mediterrâneo e revejo caras conhecidas, sempre a oscilar entre duas ou três línguas diferentes.
Fazemos um piquenique no parque, apenas interrompido pelo vento gelado que estragava aquele dia de Sol. Levam-me a um vigésimo primeiro andar com a vista mais maravilhosa da cidade e eu tremo com as vertigens antes de dormir a sesta numa cama até agora desconhecida. Janto pela primeira vez num restaurante africano, onde como as mais deliciosas asas de frango de todo o sempre e onde quase acabamos a dançar. Festejo os anos de alguém que não conheço e somos nós, os portugueses, que vamos tomando conta da música, alternando entre a playlist da anfitriã e as recordações de outras décadas.
Apanhamos um comboio e, meia hora depois, chegamos a uma Gent aparentemente abandonada e demasiado fria. Andamos, andamos e andamos, às vezes debaixo de uma chuva nervosa, da qual fugimos para uma cerveja e um capuccino que demoram a chegar. Fazemos concursos para ver quem consegue fazer a cara mais séria e eu perco sem apelo. Baptizamo-nos de Toppo Giggio e o Coco Pops depois de fazermos mais concursos absurdos.
Posso ser analfabeta funcional porque não saber ler uma reserva de voo acabou a custar-me muito dinheiro. Corro, quase desfalecendo, entre terminais no aeroporto de Madrid, certa de que o pesadelo ainda estava longe de acabar. Mas tudo o que quero mesmo recordar está guardado, trancado dentro da sua própria impossibilidade, condenado a nunca se repetir. Quando pouso as malas em casa, enfio-me de imediato debaixo do chuveiro e, ao contrário de todos os outros regressos, não é alívio aquilo que sinto hoje.
*mais fotos, como sempre, aqui.
novembro 11, 2008
Regresso quatrocentos e setenta euros mais leve e completamente desorientada. Não foi à procura deste desconsolo que dói que levantei voo em primeiro lugar, não foi buscando esta dor. A vida insiste em tornar-me pequena, em impedir-me que me sinta completa. Em vez de histórias para contar, hoje enterrei-me em silêncio, apenas com a esperança de poder ver o mundo novamente, amanhã.
Dói.
Dói.
novembro 07, 2008
novembro 06, 2008
Trinta menos um
Vinte e cinco mais quatro. Dezoito mais onze. Nem por isso tenho menos medo do escuro ou choro menos quando vejo uma boa história de amor. Não sei onde se meteram os outros anos todos nem o juízo que supostamente já devia ter chegado. Chegou o momento de cruzar a última fronteira. São vinte e nove anos de alguma desorientação, certezas abaladas, vontade de arriscar e muitas descobertas. Que seja um ano para nunca mais esquecer.
novembro 05, 2008
verb pronominal empanturrar-se [ẽpɐ̃tu'ʀarsə] comer muito
Da maneira que as coisas andam por aqui, esta é a única forma de me empanturrar que posso permitir. Não é que a disciplina seja espartana mas subsiste o respeito por uma ou duas regras do regime alimentar, que, genericamente, dizem que devo comer melhor. E bem, peixe, fruta e arroz parece-me a combinação perfeita. Além disso, a casa ficou às minhas ordens e as férias começaram há coisa de umas quatro horas, o que quer dizer que não faço mais do que o essencial. E isso implica, por agora, não mexer uma palha na cozinha - só destapar e voltar a tapar as caixas onde o sushi vem. Nem os pauzinhos uso, que a minha coordenação motora não vale nada. E agora ficar a gozar esta sensação de que o estômago vai alargar a qualquer momento, deitada no sofá vermelho, numa noite sem nada para fazer - só curar esta sensação de enfartamento. E rir-me quando vejo um monstrinho a espreitar ali em cima.
Entre os dedos *
É um filme feito de olhos escuros que se interrogam mutuamente, que se esquivam às perguntas e que se acusam em surdina. Estes rostos gastos, as olheiras não disfarçadas e as mãos nervosas valem mais do que qualquer diálogo no filme, contam-nos mais sobre quem fala. Estamos condenados aos formigueiros dos subúrbios, aos medicamentos que conseguimos desviar e ao silêncio sobre todas as coisas. Quando quisermos falar, gritamos. Quando quisermos calar, deixamos as lágrimas cair.
*um filme a evitar em alturas menos felizes. Para que o nó no estômago não aperte ainda mais.
*um filme a evitar em alturas menos felizes. Para que o nó no estômago não aperte ainda mais.
novembro 03, 2008
(...)
Bon Iver, Flume
Não sei porquê. Talvez seja de me ter, finalmente, apercebido que o frio está aí e que as nuvens em casa parecem carregadas de neve em vez de chuva. Talvez esteja relacionado com o facto de ter calçado meias para dormir pela primeira vez e já me apetecer uma braseira. Talvez não me apeteça fazer anos se não me sinto com esta idade, se não sei que idade tenho. Talvez me falem às vezes das pessoas que não têm mais ninguém e do marasmo em que se afundam e eu não acredite ser imune. Talvez dançar não chegue. Talvez um chá não aqueça. Talvez tenha demasiadas saudades de quem não devo. Talvez as pessoas nunca sejam mesmo aquilo que parecem. Talvez precisasse de travar abruptamente o rumo das coisas. A nossa tristeza nasce onde? Faz-se de quê?
novembro 02, 2008
Eléctrica Cadente
Dois homens contrariam a imensa escuridão do palco. Um não tira os óculos escuros, o outro esconde-se debaixo de uma velha cartola. Quando tenta explicar o que o fez escrever uma música, atrapalha-se docemente. Bate-se o pé sobre o estrado, sobe o pó da alcatifa debaixo dos projectores e um prato vibra fora de ritmo. O jogo de luz é sublime, cobre-os de sangue e de luar à vez, dá-lhes a nitidez da luz de Lisboa enquanto se desce uma calçada, esconde-os numa travessa de onde se vê o Tejo. São só dois homens e oscilam entre desamparados e donos de tudo. A música diz muito mas está cheia de espaços que preenchemos com as imagens que temos dentro: uma janela para o rio, miradouros mal tratados, o cheiro das primeiras flores e da roupa lavada, um salão de baile onde só dança um par, dois homens que posam num porto abandonado.
(Os Dead Combo estiveram ontem no CAEP e, dois anos depois, voltei a vê-los. Num momento ou outro, contive tímidas lágrimas de alegria. É deles tanta da minha inspiração, foi da música deles que nasceram tantos dos meus caracteres. Duma guitarra e dum contrabaixo se faz a beleza de Lisboa numa vagarosa tarde de Verão.)
(Os Dead Combo estiveram ontem no CAEP e, dois anos depois, voltei a vê-los. Num momento ou outro, contive tímidas lágrimas de alegria. É deles tanta da minha inspiração, foi da música deles que nasceram tantos dos meus caracteres. Duma guitarra e dum contrabaixo se faz a beleza de Lisboa numa vagarosa tarde de Verão.)
novembro 01, 2008
é-lou-ine
e depois ele disse-me que eu sou demasiado complicada e eu disse que ele já sabia, já me conhece há onze anos e ele acrescentou que me tornava mais complicada a cada dia que passa e que a minha sorte era ele gostar de mim assim e eu insistia que vejo através das pessoas, que sou medium, que quero que me contratem por isso e ele riu-se, olhou para mim para tentar descobrir se eu falava a sério e, quando viu que sim, riu ainda mais e mudou de assunto para me dizer que sou conservadora, ele acha-me conservadora, ela acha-me conservadora e não devia ser assim, disse-me que os homens gostam de ser seduzidos e pronto, e depois quem se riu fui eu porque sei que os homens gostam de ser seduzidos, só que gostam de o ser por várias pessoas ao mesmo tempo, não têm noção nenhuma de exclusividade e quando o puxaram pelo braço, era tarde demais para eu ir dançar e fui para casa, a tentar imaginar a quem podia enviar uma mensagem inconsequente depois das quatro da manhã
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