Sabes avô, vinha no caminho já a pensar como gostava te dizer tudo o que se passa no Mundo e que tu não podes saber. Já em Abril, tinha vontade de mostrar a cidade mais uma vez ao outro avô, mesmo estando tudo na mesma, mesmo a vista sendo sempre igual. Não vim a tempo, avô. E tu também já não foste a tempo de ver que, depois do gelo que sentimos durante estes dois dias, começou a nevar tão cedo e quase fico contente, porque em vez de chuva, ficas agora debaixo desta mantinha branca.
Sabes avô, o meu pai disse que o 2009 ainda não tinha acabado e que só agora se fechava o ciclo e eu quero acreditar nele. Vamos ter saudades tuas mas o que tu tinhas agora já não se chamava vida e feria-nos tanto não te poder ajudar. Falei contigo em pensamento porque tenho a esperança secreta que, algures, ainda nos possas ouvir. Já não sei dizer se isto foi tudo de repente ou de demorou tempo demais mas sei dizer que isto foi a repetição exacta dum pesadelo que já tínhamos vivido há nove meses: as mesmas pessoas à volta da mesa, o mesmo bacalhau ao almoço, os mesmos acordares para um dia que desejávamos não existir. Só está é tanto frio, avô e é como se a neve estivesse cá para marcar o dia - como se pudéssemos esquecer.
Vou ter saudades tuas, avô e não quero aqui falar das coisas tão boas de que me lembro porque o mais certo é regressarem as lágrimas. E se me contenho, e se agora me acalmo, é porque desde há nove meses atrás que acredito que vocês se escondem num sítio secreto, onde vão ficar para sempre, esperando também por nós.
5 comentários:
pois... como te entendo...
jinhos
presumo que este sentimento seja partilhado por todos aqueles que já perderam alguém...e que vão a pouco e pouco, acumulando noticias para lhes dar e beijos e abraços...
Gosto de ti.
Beijinho.
doi e não passa...
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