Já muitas vezes me tinha posto a pensar nos meus votos para o novo ano que amanhã começa. Mas confesso que, depois de ler outros desejos, outras resoluções, fiquei sempre com a impressão que os meus desejos não eram suficientemente originais ou profundos.
O ano que termina hoje foi um bom ano para mim. Trouxe-me a certeza que queria estar aqui e o carinho crescente por terras luxemburguesas, o amor contrariado pelo frio, pelo cinzento mas que ainda não consigo sentir por esta falta de luz. Às vezes, quando conduzo sozinha, ainda me surpreendo quando penso que vivo aqui e, por segundos, parece que estou a assistir à vida de outra pessoa, uma emigrante mais ou menos à força, como se Lisboa estivesse sempre a dois minutos daqui. Só que não está e apesar de algumas vezes sentir que esta vida é apenas temporária, sei que a verdade não é essa e afeiçoo-me mais ao verde dos bosques, às três fronteiras e ao estatuto de estrangeira.
Viajámos muito, este ano. Pude realizar um sonho pequenino mas antigo chamado Paris, pudemos encontrar amigos Europa fora e matar saudades. Se é a mesma coisa? Evidentemente que não mas sempre alivia a falta que nos fazem todos. Os meus pais e a minha irmã puderam conhecer o Luxemburgo e eu pude retribuir as visitas - quando olho para outros emigrantes aqui, reconheço que somos pessoas de sorte. E é exactamente esta facilidade em sairmos daqui, esta leveza em planear visitas por aí um dos factores que mais fala a favor do Luxemburgo: se estivesse em Portugal, poderia apenas sonhar com isso.
Consegui mudar de trabalho, depois de alguma espera. Quase me empurraram para o desconhecido e eu, sem oferecer nenhuma resistência, só tenho a agradecer a quem acreditou mais em mim que eu mesma. Acho que todas as escolhas que fiz até chegar aqui têm feito sentido, alguns sacrifícios, uma dose importante de stress e de adaptação em todo o lado revelaram-se finalmente compensadores. Aprendi mais e mais sobre as pessoas em ambiente de trabalho mas, acima de tudo, desenvolvi a minha capacidade de observar sem falar, de escutar e analisar os outros e dar segundas e terceiras oportunidades para ter alguma razão no final. Ascendi profissionalmente, não há como negá-lo. E além dos óbvios benefícios materiais, consegui o bem supremo: liberdade de decisão, de planeamento, de organização. E só isso me faria suspirar de alívio.
Continuamos a ser uma pequena família de três, não por nossa vontade mas isso é assunto para outro post. Somos constantemente desafiados pela exigência que é estar a dois mil quilómetros da família, sem ajudas nem tempo para respirar. Muitas vezes isso faz-nos perder a cabeça, destabiliza-nos mas faz-nos valorizar mais o que conseguimos. Continuamos a educar um miúdo para ser poliglota, um miúdo cheio de personalidade e da rebeldia característica dos putos de três anos, que tanto nos tira do sério com a sua desobediência como com a sua ternura. E chegar ao ponto em que ele me diz espontaneamente "Mãe, gosto muito ti" faz-me realmente esquecer tudo o resto!
O que é que eu desejo para 2014? Para nós muito pouco, apenas que a nossa vida possa continuar como até aqui, que possamos seguir o plano que tacitamente traçámos - viver com calma, educar e amar, ver o mundo e continuar com os pequenos gestos que podem fazer a diferença. Para a nossa família, os nossos amigos eu desejo muito trabalho, toda a saúde do mundo, força e coragem para enfrentar maiores ou menores dificuldades, tempo para si e também para os outros. O meu desejo maior era que existisse a teleportação (isto existe?) para poder estar com a gente que me faz falta a toda a hora mas pronto, nada feito. Feliz Ano Novo e que a vossa felicidade possa sempre depender das pequenas coisas!