Disorder (ou Shakira, desculpa mas fica para uma outra vez!)
O jantar: Nunca se chega a horas. Pelo menos, não neste país. Por isso os alemães já estavam impacientes quando demos com eles, em frente à Barraca. Espera-se, telefona-se, já tou quase a chegar! e coisas do género. O restaurante era medianozinho, com o respectivo empregado também a usar o diminutivo, como é da praxe.
Houve um momento de tensão quando descobri que ia ficar mesmo na frente dos alemães, Thorsten e Ulrike - ambos andavam a comer toda a gente com os olhos desde que puseram pé no departamento. Além da nossa mesa, estavam aí 30 miúdos e miúdas, tudo abaixo dos 18 anos, tudo penteado e vestido como dita a moda (tantos iam de Cristiano Ronaldo que até metia medo). Gritavam, insultavam os empregados, combinavam os curtes da noite, achas que ele hoje quer alguma coisa comigo? e faziam-nos pensar que, se não estamos velhos, estamos pelo menos a anos luz daquilo. Tiram-se dezenas e dezenas de fotos, a malta saca toda das máquinas e dos telemóveis e tira-se foto a três, ao grupo todo, com os alemães, a fazer cornos - o habitual.
O digestivo: Levar 20 pessoas para o Bairro Alto nunca foi boa ideia. Perdemos pessoas pelo caminho, tínhamos que chamar sempre por uma das alemãs (que aquilo a abrir caminho entre a multidão era demais, ia tudo a direito). Houve uma primeira tentativa de nos enfiar num covil de metálicos (OK, eu pensava mesmo que eles já não existiam) que falhou redondamente porque só estavam 3 homens e o restante grupo eram mulheres que se tinham arranjado para alguma coisa mais... de mulheres. Voltamos para trás, hesitamos, paramos na Tasca do Chico (o que para mim foi uma grande novidade, tendo em conta que estive lá em todas as últimas noites que saí) e bebemos imperial de meio litro. Os mais corajosos passam ao absinto ou a outra bebida branca, o que não bebem continuam sem beber.
O trigo e o joio: Discutem-se a discotecas possíveis e prevê-se que hajam cisões no grupo. Uns querem ir para o Lux, outros para casa, outros para uma qualquer Ladies Night. Após muita pressão do chefe (o mesmo que controla o comando do ar condicionado no trabalho e o esconde na gaveta), conseguimos entrar quase todos no Jamaica. Em 9 anos de Lisboa, nunca tinha posto pé naquela rua e, bem, não sei se o farei tão cedo. Entra-se na discoteca e as médias são a 2,50€ (parece que estamos no Dallas ou no Casulo em Portalegre) e alguém comenta que aquilo é um bar de engate para velhos. Só que começa o desfile de clássicos dos anos 80 e pronto, não houve nada a fazer: foi deixar o corpo abanar, beber muito a acompanhar, tentar desviar-me da alemã que se encostava tanto às pessoas. As alemãs ficaram possessas, assim como muitos homens que estavam à volta delas enquanto elas se abraçavam muito. Muito.
A cereja no topo: O chefe não desistiu até nos enfiar no Disorder. Eu não sabia ao que ia, juro. Porque se soubesse tinha-me rido e apanhado um táxi para casa. Mas ainda bem que não desisti. Entramos e aquilo é uma caverna cheia de góticos, com cabelos muito compridos, em círculos, a abanar a trunfa e a tocar air guitar. Está a dar Depeche Mode quando entramos e eu penso 'OK isto não pode ser assim tão mau'. Continuam as músicas do mal e as miúdas que parecem saídas dum filme do Tim Burton ou do Ghost World abraçam-se muito também, já são elas e as alemãs. E depois há o momento de glória, o momento em que entro completamente em transe e sou a única pessoa na pista. O DJ meteu a Rebellion (Lies) dos Arcade Fire, toda a gente se sentou à volta ou ficou no balcão e eu, completamente extasiada por ouvi-los pela primeira vez numa discoteca, esqueci-me deles todos. E, felizmente, a música acaba e quem restou decide ir embora. Sei que me sentei na carrinha Mercedes e fui com um sorriso parvo na cara até Telheiras.