outubro 29, 2007

Scorpio rising *

Apetecia-me escrever um post melancólico sobre os dias melancólicos que agora chegaram. Escreveria sobre este anoitecer precoce, sobre como já faço as viagens quase sempre à noite e sobre como saio do escritório e é noite cerrada, quando ainda na semana passada fazia Sol. Depois, descreveria como as noites ficaram geladas na minha cidade, as esplanadas vazias depois de semanas a fervilhar de gente, o aquecedor que já liguei no quarto, as noites que (penso) aí vêm sem vontade de festa. Mencionaria o transtorno do último regresso a Lisboa, enervada entre os condutores de fim de semana, as manobras perigosas de alguns e um leitor de mp3 que resolveu não funcionar durante toda a viagem, sabendo perfeitamente que antena também não existe. Se houvesse ainda tempo, dissertaria, por fim, sobre um vazio estranho; uma nódoa provocada pela rejeição; uma inaptidão para verbalizar emoções; e a incapacidade de assumir desejos.

Poderia escrever todo este post negro ou cinzento mas não quero. Apetece-me dizer que adoro esta época do ano porque há muita coisa que só acontece agora: as romãs, o bolo de milho da minha avó, os tortulhos de molho, os dias gelados mas de céu azul, o apaziguamento e a aceitação (vagarosa) de que só há Verão daqui a nove meses. No fundo, a minha respiração deixou de estar pesada porque sei que faltam dois dias para as férias e três dias para a viagem e os mesmos três dias para ver pessoas que me fazem falta e cinco dias para quem me deixou há mais tempo. Deixei de dormir mal e utilizo todo o espaço da minha cama de casal (e meio...) e, mesmo quando acordo a meio da noite, volto a dormir apenas em alguns instantes. Dou o braço a torcer e assumo que a vida não me trata mal, pelo contrário, e que não raras vezes me mima. E termino a pensar como é bom ouvir as palavras que escapam aos outros, como somos mais felizes quando perdoamos e relevamos, como sabe bem esquecer o romance por instantes e pensar só no superficial e como a vida continua. Apesar de tudo, de todos os infortúnios, de todas as desilusões e expectativas falhadas, apesar das contrariedades mínimas e máximas, apesar da inconstante vontade de avançar. É Novembro.

* ele aí está.

outubro 27, 2007



Este rapaz tem poesia lá dentro. E ironia. E consciência social. E é norueguês, ainda por cima.

...

Avó: Tu és como um pardal, filha.
Eu: E isso é como, avó?
Avó: Voas sem pousar. És daqui mas não és daqui.

outubro 25, 2007

Podes parar. Pára lá. Não, a sério...

Tenho o olho esquerdo a tremer desde ontem. É como se, em espaços de tempo exactamente iguais, tivesse um pequeno músculo em espasmos violentos na minha pálpebra. Já houve quem quisesse chegar perto para confirmar porque acha a ideia simplesmente hilariante, como se o meu olho tivesse vida e quisesse abandonar a órbita. Há quem ache que o olho me está a rejeitar, há quem diga que é uma vibração fantasma*. A mim, isto incomoda. Além da situação em si, que me deixa mais nervosa, o que me chateia verdadeiramente é não saber o que está a provocar este tremelique.

Muitas vezes tive um dos olhos inquietos com espasmos - é, obviamente, um fenómeno nervoso. Primeiro, a sensação desconfortável faz com que tente manter o olho aberto durante mais tempo do que o normal. Depois, passo à parte do auto-diagnóstico e tento perceber o que tenho cá dentro por terminar/por dizer/por atingir. Por norma, consigo perceber de onde vem este reflexo e tranquilizo-me quando sei como fazê-lo passar. Mas desde ontem que tento pensar no que me pode estar a incomodar e não encontro nenhuma resposta. Racional ou consciente, pelo menos. De maneiras que evito passar pelos homens que trabalham na obra mesmo ao lado do escritório, ainda assim algum não pense que estou no flirt.

Quando às vezes ouço certas músicas na rua (como a Someone great, dos LCD Soundsystem), acho que não me vou conseguir controlar e vou começar a dançar sem reservas, ali mesmo, no passeio da rua Viriato. Já me imaginei, completamente tresloucada, as pessoas paradas sem saber sequer o que pensar e eu a dançar (no silêncio) a música que me enche a cabeça. Era mais giro que, em vez do espasmo do olho, eu começasse simplesmente a dançar. Irritava-me menos e sempre tinha uma memória mais interessante para partilhar.

* como aquelas que agora, como somos modernos, sentimos quando andamos com o telemóvel no bolso.

outubro 23, 2007

Soem trombetas, rufem tambores...

... que a menina decidiu, pela primeiríssima vez, passar a roupa a ferro. Sem obrigações mas também sem jeito nenhum. Estou a um bocadinho de me tornar na dona de casa ideal.

outubro 22, 2007

Ser grande é f*****! *

Não sendo diferente das outras pessoas, eu tenho um sério problema com o dinheiro. Não é que não saiba o que fazer com ele ou que ele seja demais - é só que ele nunca me chega. Odeio ter que depender dele e por isso já desejei muitas vezes voltar à época da troca directa, onde o comércio me parecia muito mais justo e adequado às necessidades de cada um. Hoje em dia é impossível não pensar no dinheiro, fazemos muito pouco sem ele mas também não somos necessariamente mais felizes com ele.

Há uns meses valentes que suspiro profundamente pelo final do mês, tentando adivinhar quando vai ser depositado mais dinheiro na minha conta. A prestação da casa asfixia-me e é um luxo que estou a pagar bem caro. Mas foram nove anos a morar sozinha, sem depender de senhorios ou companheiros de casa psicóticos/sujos/cleptomaníacos, sem ter que usar apenas o quarto e a cozinha, sem ter que aturar amigos alheios. E, precisamente por ser tão independente, encontro-me absolutamente dependente desta despesa e tudo o que planeio tem que ser feito a partir dela. Quantas pessoas é que conseguem poupar alguma coisa hoje em dia? Duvido que sejam muitas e eu não sou certamente uma delas. Tenho um pé de meia muito curtinho, quase roto, que me salvará em caso de doença mas pouco mais que isso.

A minha relação com o dinheiro teve basicamente duas fases: a de adolescente (até estar na universidade, inclusivamente) e a de jovem trabalhadora. Na primeira, todo o dinheiro que os meus pais me davam era pouco, havia crises que resultavam da minha má gestão, já havia sinais desta vício da não-poupança. Agora, independente financeiramente, não sei como viveria sem eles. Revolta-me saber que eles evitam pequenos prazeres para me poderem ajudar e, se antes agradecia todo o dinheiro que me davam, hoje já tento recusá-lo, normalmente em vão. E mesmo sabendo que o meu pai dormia mal porque tentava arranjar uma maneira de esticar um ordenado sempre curto, não podia imaginar que alguma vez o dinheiro me fosse tirar o sono. Ah a ingenuidade...

Por isso, acho estranho que hoje não entendam os meus pequenos prazeres. Fico excitadíssima quando posso gastar o meu dinheiro em bilhetes para concertos ou livros ou viagens modestas - é só a maneira que arranjei para me manter livre. E para fingir que o dinheiro não tomou conta de mais esta vida. Não que passe todos os meus dias a pensar nisso... Mas daqui a nove dias é finalmente final do mês. Ufa.

* ou eu havia de arranjar maneira de dizer isto num dia qualquer.

outubro 19, 2007

Cinco estrelas!

Em resposta ao desafio do Tiago, aqui ficam os meus cinco filmes preferidos. Escolho-os não pela estrutura narrativa ou por uma feliz sucessão de planos, em que o campo e contra-campo e fora de campo alternam em plena harmonia - isso não sei dizer. Escolho-os pela maneira como me falaram ao coração: é que eu sou absolutamente viciada em histórias boas.

Portanto, e numa ordem aleatória, os meus filmes preferidos são O carteiro de Pablo Neruda (já perdi conta às vezes que sonhei ter uma janela sobre aquele mar), Donnie Darko (nunca me vou esquecer do murro no estômago que é o final, sentada num quase vazio São Jorge), Lost in translation (como, com poucas palavras, se escreve uma história de amor), Eternal sunshine of the spotless mind (em que eu falo através da boca da Kate Winslett durante o filme todo) e [fazendo batota] um qualquer do Woody Allen (esse delicioso e franzino neurótico, completamente rendido às mulheres).

Jane, Catarina, Finn, Sónia e Rita Maria - passo-vos a batata quente. Queiram ter a gentileza de partilhar essa vossa lista connosco!

outubro 18, 2007

Doces dias *

Os dias passam devagar por mim mas deixam-me marca porque isto de acordar às seis e meia da manhã não é para mim. Quer dizer, é, mas francamente o facto de chegar a casa e querer dormir dormir dormir chateia-me. Ando a contar religiosamente os dias que faltam para os próximos sete dias de férias e a fazer planos para os dias que ainda me sobraram, isto é, a planear a minha próxima internacionalização, que deverá acontecer para os lados de Barcelona para visitar o amigo e ex-colega Jorginho. Isto é um detestável ciclo vicioso que se resume ao esquema pensar em férias--> descanso-->trabalho (revigorada)--> pensar em férias mas em períodos de tempo curtíssimos. Portanto, é no exacto momento em que o trabalho começa a render mais que o pensamento das férias me ocupa toda a parte do cérebro não dedicada a relatórios de produtividade, alocação de pessoas, faltas e atrasos e esquemas de motivação.

Por isso, não é de estranhar que um dos confortos venha da comida, mais precisamente dos jantares com outras pessoas que não o Chandler ou a Phoebe ou o Ross. Na semana passada, passámos uma noite a comer enchidos de Portalegre, a degustar queijo da Serra da Estrela, tudo regado a Periquita. Não foi bem um jantar, mas sim uma gigante tábua de queijos e enchidos, daquelas que enchem a vista no restaurante. Mas a pièce de résistance foi um maravilhoso cheesecake (foto deste menino, confecção deste *), o qual me tem assaltado o palato de vez em quando. Mas, prometido que está o encore do cheesecake, estou mais descansada. Ontem foi a vez do costumeiro sushi caseiro, onde não arriscámos mais que o pepino, a pasta de atum e o salmão crú/fumado. Como é hábito, fizemos quantidades industriais, que sobraram e que alguns reservaram para o seu pequeno-almoço [ar de náusea]. Não fosse o facto de termos começado a jantar às onze e meia da noite e tinha sido quase perfeito.

Resta dizer que ontem foi dia de ginásio. E hoje devia ter sido. Amanhã será certamente. É que o corpo não se compadece com os jantares de amigos. E se eu quiser continuar a comer uma cacholeira de assar, seguida de queijo da Serra e arrematar tudo com tostas e pasta de atum, há muito trabalhinho a fazer. Suar. É urgente.

outubro 16, 2007

Ainda vou a tempo!

De ter dar os parabéns por vinte e seis anos que mais me parecem dez, porque nunca deixarás de ser a minha baby! De te dizer que te adoro (como se precisasse de dizer mais...) e de te desejar toda a felicidade que me cabe no coração. E de me humilhar publicamente, publicando esta fotografia em casa da avó :) Não cumprimos o sonho de morar juntas (ainda!) com os nossos bebés e maridos mas não há nenhum dia em que não pense em ti. Parabéns macaca! (L)

(Sim, os pormenores da mãozinha no bolso e da cara de quem fez das boas são impagáveis.)

outubro 15, 2007

Do multiculturalismo

Ler um livro em alemão sobre a Namíbia. Agora sem rede, aka, sem dicionário ao lado da cama.

[fingers crossed]

outubro 14, 2007

... *



Um dia de preguiça em casa, quando o tempo prometia cem porcento de nebulosidade e afinal o sol ainda brilhou. Acordar tranquilamente até as palavras ditas no dia anterior ressoarem outra vez na cabeça: afinal aconteceu mesmo. Acabar o jornal, almoçar os restos de ontem, pairar entre a máquina de lavar e o sofá. Sentir que não há grande coisa a dizer, a boca é como uma nascente seca. Ele disse-me Amanhã seremos outros e eu sei que sim. Mas enquanto o nosso corpo não muda e a nossa cabeça se concentra em coisas vagas, custa. Quis forçar as palavras mas não há aqui nada. Vou ficar encostada na minha varanda, a sentir a algazarra dos meus vizinhos espanhóis, a espreitar as nuvens descerem para o rio, a fingir que posso tocar nos aviões que estão prestes a aterrar, sem falar. Amanhã sou outra e no outro dia também e no dia a seguir. Só esta nódoa é sempre a mesma.

* you rock. They do too.

outubro 13, 2007

Let's face it.

Daqui a três semanas faço vinte e oito anos e sou uma anormal. Tenho casa própria, tenho um carro velho mas que anda, tenho saúde e amigos, viajo e vou a concertos, passeio e leio muito mas sou uma anormal. Porquê? Simplesmente porque tenho quase vinte e oito anos e não tenho namorado. Não sou eu que o penso, é toda a gente à minha volta. É a minha chefe que me aconselha a ir à PT procurar um rapaz jeitoso, sãos os pais das minhas amigas (que já casaram) que me olham com uma certa compaixão, são os amigos que pressionam. Mas sei que sou mesmo anormal quando a minha própria mãe já não acredita que algum dia vá conhecer alguém interessante. Porque, para toda a gente, a culpa é minha, eu é que não devia ser esta anormal que simplesmente não quer uma pessoa qualquer, que não precisa de uma relação de conveniência para se sentir menos só.

Eu devia arranjar um namorado. Mesmo que eu não o amasse ou que não suportasse os hábitos dele mas, pelo menos, se o arranjasse, podia encarar toda esta gente de frente e passava a ser como as outras. E eu até quero ser como as outras mas quando chegar a altura certa. Só com um namorado é que os outros me podem imaginar feliz. Mesmo que ele me batesse ou fosse ignorante ou escondesse um segredo horrível ou desprezasse as mulheres ou só me quisesse por estar tão só como eu. Mas isso ninguém precisava de saber, bastava que me apresentasse com ele por aí. Francamente, já não sei o que está certo. Mas sei, quando ouço as pessoas falarem por aí, que sou uma anormal duma anormal.

outubro 12, 2007

Sobre a sorte (outra vez)

Adivinhem quem é que acabou de ganhar um bilhetinho (no sítio do costume) para ver os Ingrid Eto no Santiago Alquimista hoje à noite.
[assobio]

outubro 10, 2007

outubro 09, 2007

Dormir mais feliz #9 *


Desire me so deeply
Drain and kick me hard
Whisper secrets for me
Try to go too far


* ou Eu ando a acordar assim há muitos dias...

Tenho mais uma prova de que realmente sou totó quando...

... descubro que tenho mais nove dias de férias para gozar e não sei o que fazer com eles.

outubro 08, 2007

A regra que confirma a excepção



Pois o que me aprazia dizer era que tinha gostado imenso da actuação de Electronicat, um rapaz francês radicado em Berlim. Mas não foi isso que aconteceu e, portanto, não vou mentir. Foram apenas alguns momentos de ruído, em que uma boa batida (resultante de programações prévias) combatia com uma guitarra estridente e pouco espectador friendly, o que, acompanhado com uma voz pouco segura, tornava a música numa muralha de som intransponível. Eu respeito imenso os artistas, especialmente quando se apresentam sozinhos em cima de um palco, arriscando o desaire musical sozinhos perante uma plateia de onde podem surgir as mais díspares reacções. Mas isso não me obriga a gostar. Respeito mas ao vivo não quero repetir.

outubro 06, 2007

Duas noites numa noite!

O que é que têm em comum uma grelha de churrascos velhas, uma marioneta mexicana, um termo e uma panela, uma caixa de ferramentas e um jogo de sinos? São todos tocados pelas irmãs mais criativas que já vi até hoje, as Vermillion Lies. Poucas vezes me aventurei a ver um concerto de um artista ou de uma banda que não conhecesse mas, pelos vistos, ando a perder todo um outro Mundo. Acompanhadas por um guitarrista, um violinista e duas bailarinas (connosco na foto), as irmãs Kim e Zoe conquistaram (a custo, é certo) a sala portalegrense.

Uma irmã compõe as músicas alegres para a guitarra, a outra arranca as cantigas mais tristes do piano e fazem as duas aquilo a que se chama twisted folk. Cantaram sobre o avô que morreu, sobre a pessoa de quem mais gostam no Mundo, sobre o aquecimento global e sobre o namorado que as deixou ficar mal. O registo oscilou entre a cantiga de cabaré sob o tom aveludado das luzes vermelhas e a doçura das canções sobre os males de amor. Todo o público foi chamado a participar, quer em partes da letra (It's hot!), quer na própria percussão. As irmãs sabem dizer O que está na caixa?, Boa noite Portalegre e [sic] bacalau. Disseram-se encantadas com a nossa comida e com as pessoas e estiveram disponíveis depois do concerto para fotografias para venderem a sua própria roupa interior. Que maravilhosa surpresa, esta noite.

Depois da primeira noite, houve uma outra - a diferença foi só de dez ou quinze minutos. Os Capitão Fantasma ocuparam o café-concerto para um espectáculo abrasador. Para mim, era outro momento de descoberta porque muito pouco conheço deles, as recordações levam-me até aos meus catorze, quinze anos. Havia malta muito estilizada, naquele estilo rockabilly que sempre associei à música destes rapazes, havia aquele pessoal que cresceu a ouvi-los e agora, já para lá da fronteira dos trinta, reviveu grandes momentos da adolescência. O café-concerto esteve a fervilhar, especialmente quando Bruto subia para cima do monitor e gritava para a massa de rapazes que se empurrava na frente, as cristas a deslizarem e os punhos em riste para cantar as letras todinhas de cor. Esteve Lisboa a arder, as caveiras a serem convocadas para o rock e toda a gente bem disposta. Haja fôlego* para acompanhar esta gente!

* e a ver se hoje ainda resta algum, para o senhor Electronicat.

outubro 05, 2007

Como podemos não acreditar nos astros? *

SCORPIO - The Intense One> >>Very energetic. Intelligent. Can be jealous and/or possessive. Hardworking> >>Great kisser. Can become obsessive or secretive. Holds grudges.> >>Attractive. Determined. Loves being in long relationships. Talkative.> >>Romantic. Can be self-centred at times. Passionate and Emotional.>

*depois de receber mais uma daquelas correntes de email.

Uma mulher a olhar para dentro dos nossos olhos

imagem emprestada daqui

Foi um serão empolgante. O grande auditório do Centro de Artes do Espectáculo era o cenário e, embora não estivesse totalmente lotado, estava quase cheio. Era o primeiro dia deste livre trânsito que me calhou em sorte e estava a sentir que aquele lugar da sala era sem dúvida o melhor. A fila J, a cadeira 14 deixam-me exactamente no centro da sala, como se o espectáculo fosse acontecer apenas para mim.

Mentiria se dissesse que sou a maior das fãs dos Clã. Mentiria também se dissesse que comprei religiosamente todos os discos ou que segui os seus concertos por locais vários. Mas sempre senti uma grande empatia por cantarem tão boa música portuguesa, por não serem pretenciosos nem demasiado humildes, por me parecerem exactamente conscientes do que valem. O concerto que vi ontem, a inaugurar a nova temporada de digressão e a marcar o lançamento do novo Cintura, mostrou-me que eu estava enganada, não relativamente ao seu valor mas à atenção que até agora lhes prestei.

A música dos Clã é uma celebração: uma celebração da língua portuguesa, uma celebração da mulher mãe e amante, uma celebração da vitalidade e da sensualidade. Com um visual totalmente renovado, os Clã vieram reabrir esta sala de Portalegre (depois da sua remodelação) num estado de graça, motivado pela ansiedade em voltar aos palcos. O concerto baseou-se primordialmente nos temas do álbum que agora lançaram e alguns êxitos de discos anteriores, músicas familiares cantadas por muita gente na sala. A Manuela é um inesgotável poço de candura, de sensualidade e energia, dominando o palco (e consequentemente o olhar dos espectadores) com a sua frescura de mulher feita. Senti-me inevitavelmente atraída pela forma descomprometida como se move, como se esquece que está perante estranhos e se deixa conduzir pela música, como é várias mulheres em frente àqueles microfones. É como se, cantando, me dissesse que está tudo bem.

Os Clã provaram que se sabem reinventar e trouxeram a Portalegre memoráveis momentos de dança (que o público optou por sentir apenas no bater do pé), com linhas de baixo muito sujas de onde brotava todo o ritmo. Trouxeram também o rock nas guitarras de Hélder Gonçalves e na máscara gigante com que Manuela cantou uma das suas músicas: era Paulo Furtado, na sua versão The Legendary Tiger Man. Houve tempo para as baladas que se impunham (O sopro do coração, Problema de expressão, a novíssima Ponto zero) e que foram cantadas apenas timidamente pelo público, sob pena de impedir momentos de cristalina intimidade. Também houve espaço para o refrão contagiante de Dançar na corda bamba ou a estranheza transvestida de doçura de Carrossel dos esquisitos.

Foi, em suma, uma noite belíssima que terminou com a Manuela lançando aviões de papel para a plateia. Era impossível não sorrir. Assim como também era impossível não aplaudir com toda a força, de pé, demoradamente, até a banda regressar para a vénia final. Foi um bom prenúncio para os Clã. E para nós também, que podemos continuar a ser felizes ao som de música feliz.

outubro 03, 2007

Na semana das folgas... *



... faz-se o jantar com o dinheiro que juntámos no Euromilhões. O que começou por juntar quase toda a gente do escritório acabou num jantar para dez pessoas numa tasca simpatiquíssima no Bairro Alto, escolhida naquele maravilhoso ficheiro de Excel com alguns restaurantes que anda a circular por todos os emails. Trouxe a malta a conhecer a mansão da Lapa e, mais uma vez, consegui impressionar pela positiva e os aposentos foram mais uma vez elogiados. Depois de algumas minis Sagres (como manda a tradição), apanhámos o eléctrico até ao largo de Camões, onde nos esperava a restante companhia. Comemos bem e bebemos ainda melhor, tive o melhor ataque de riso dos últimos tempos (já não aguentava mais, literalmente, tal era a forma como já tinha contorcido os abdominais); ouvimos Manu Chao na Tasca do Chico, cantámos Nirvana no Clandestino, dançámos Bob Marley no Jamaica e acabámos a saltar ao som de London calling no Tokyo.

Há um verbo em inglês que se adequa exactamente à forma como me sinto neste momento: hover, pairar não é a mesma coisa. Dou comigo no autocarro a sonhar enquanto olho o trânsito na rotunda do Marquês, não consigo controlar as associações de ideias (porque é que mesmo recalcando certas imagens elas continuam a vir-me à memória com os estímulos mais disparatados?). À noite durmo descansada, enfio-me na cama ainda só de lençol e abraço uma das almofadas e adormeço (não às noites sem sono! e não às milhentas voltas antes de dormir!). No trabalho descuido-me e, quando dou conta, estou parada a olhar para o Cristo Rei e a tentar perceber se há pessoas nos telhados que vejo daquele sexto andar. Hoje uma senhora salvou-me a vida e avisou-me que vinha lá uma mota mas eu nem me virei para trás a agradecer: levava os phones nos ouvidos e a música era mais importante do que agradecer a uma desconhecida. Não quero mais perder-me em pensamentos errados/desadequados/impróprios. Mesmo sabendo que, bem vistas as coisas, nada me alegra mais.


* com duas miúdas giras, a M. e a C., a ilustrar o post

outubro 01, 2007

Fireworks and hurricanes... eles voltaram!

As seen here.

A versão digital disto já é minha. Alguém se oferece para me presentear com a caixa toda que falta? A sério. Eu juro que sou muito boa pessoa. Mesmo. Ou então eu troco por uma boa acção qualquer. Mas alguém que ma ofereça. Por favor. Estou disposta a esgrimir argumentos que atestem da minha idoneidade. E a dizer coisas destas. Mas eu queria mesmo esta caixa. Quase tremo só de pensar no que vem lá dentro.

I don't want to be your friend/
I just want to be your lover/
No matter how it ends/
No matter how it starts/

Forget about your house of cards/
And I'll deal mine.