Domingo de manhã. Peguei no fato de banho e fui finalmente usar a prenda que a mana me tinha oferecido pelos temidos vinte e nove anos. Nunca tinha entrado num spa nem sequer pensado seriamente em usar um mas parecia-me uma ideia excelente e não me lembro de uma altura em que tenha precisado mais.
Um spa, ria-me eu a caminho, não sabendo muito bem o que ia encontrar.
O atendimento foi super atencioso e formal e fui acompanhada por uma assistente que me mostrou as instalações e me explicou brevemente o partido que podia tirar da primeira metade do tratamento. Foi assim que entrei pela primeira vez num banho turco, numa divisão onde mal conseguia respirar, tal era a humidade. Não conseguia ver mais do que dez centímetros à minha frente mas senti imediatamente o corpo a libertar as toxinas do crepe da noite anterior e deixei-me ficar em silêncio no meio de todo aquele vapor. Depois, logo à saída, contrariei aquele calor com um duche gelado para estimular os músculos. Passei a uma piscina cheia de jactos de água e com uma cascata para massagens lombares onde passei longos minutos mais em jeito de brincadeira do que de terapia. Depois de me refrescar numa fonte de gelo, foi a vez de caminhar sobre seixos, enquanto jactos de água activavam a circulação nas pernas. E finalmente, a terminar o
aquecimento, boiei mais de 10 minutos numa piscina com água do Mar Morto (dizem...), o que equivale a duas horas de sono.
Depois era a vez da massagem. Quando me veio chamar, estranhei ver um homem na casa dos trinta anos, cabelo comprido apanhado atrás, alto e com uns olhos rasgados e intensos dizer que era o meu terapeuta. Eu esperava uma mulher mas em vez disso, e como num cliché cinematográfico, estava entregue a um terapeuta sexy. Falava muito baixinho, como para me acalmar e assegurar de que estava num ambiente sério, era bastante educado e delicado, o que me deixou desde logo à vontade. Na sala da massagem, pediu-me que me despisse enquanto ele esperava lá fora e eu quase entrei em pânico: despida num sítio desconhecido, na companhia de um homem desconhecido. Mas o ambiente era tão calmante, o incenso queimava tão lentamente que me abandonei às mãos daquele homem. Explicou antes o que faria e as suas mãos eram firmes, experientes. Nunca o ouvi deslocar-se naquela sala, tal era o nível de subtileza e agilidade dele. A única coisa que lhe sentia eram as mãos, os braços e a respiração, já que nunca falou durante a massagem, apenas para assegurar-se de que eu estava a gostar. Eu sei que era apenas mais uma cliente nas suas mãos mas, sem saber exactamente como, ele fez-me sentir importante, como se fosse aquela a sua primeira massagem. No final, convidou-me para um chá, que recusei delicadamente, com medo de estragar aquele ambiente com alguma trivialidade ou timidez. Despediu-se de mim com um aperto de mão, um sorriso misterioso e um olhar tão tranquilizante como as suas mãos sobre mim.
Escusado será dizer que terei que voltar. Nem que seja para gozar aquele imenso silêncio dentro de água, nem máquinas, nem música, e eu a perder cada vez mais a consciência de onde estou. Ou para me encostar à parede durante o banho turco e ver as impurezas deixarem o meu corpo. E, enquanto me divirto sozinha na piscina, vê-lo passar no corredor e acenar-me calmamente. Agora, isto é tudo o que eu precisava.