dezembro 03, 2008

Ficção #10

Deixas a porta entreaberta enquanto afastas toda a roupa que tinhas espalhado pela cama e a tentas dobrar com a maior rapidez possível. De frente para a porta, espreito pela fresta mas não vejo mais do que o teu vulto entre a cama e a cadeira e fico inquieta. Não sei se me vais chamar ou levar-me pela mão a descobrir a que cheiram os teus lençóis. Ensaio o meu melhor olhar de sedução sem qualquer sucesso porque demoras a sair do quarto. Quando chegas, é interrogação aquilo que vês. E respondes sem sequer abrires a boca, apenas fazendo-me sentir que me esperas. Hesitante, vejo-me à tua frente, os teus olhos buscando os meus, as tuas mãos ossudas e pequenas na direcção da minha cintura. Somos a reprodução de um par dançante, dois amantes imobilizados pela ausência de lógica, a imagem cristalizada da impossibilidade prestes a ser quebrada por um beijo. Promete-me noites acordados sem cessar. Promete-me fazer disto um sonho. Promete-me tudo.

1 comentário:

JeR disse...

Muito bom M. ;)