Sou eu, completamente despegada da minha terra e a ser consumida pelas saudades quando estou muito tempo sem lá ir. Sou eu, agarrada ao volante de um carro que teima em funcionar, que me arrasta pelo alcatrão quente na recta de Pavia. Sou eu, a remexer as memórias e a montar todas as recordações de novo, a tentar mudar o rumo das coisas que já fiz e a tentar escapar à previsibilidade do que ainda aí vem. Sou eu, a aproveitar todos os momentos em que estou em silêncio para silenciar também a minha cabeça. É um coração avariado, passeando a sua desordem à beira dos rebanhos incandescentes, como na música d'A Naifa. Sou eu, sim senhor. Até as sobrancelhas carregadas e negras que herdei da minha família paterna estão lá.
É paradoxal, sentir que há um retrato que nasce das minhas palavras. Não foi preciso que este par de olhos se cruzasse com o meu par de olhos: só foi preciso escrever e deixar a música colar-se às minhas palavras. É desarmante, alguém que nos vê sem nos ver.
É paradoxal, sentir que há um retrato que nasce das minhas palavras. Não foi preciso que este par de olhos se cruzasse com o meu par de olhos: só foi preciso escrever e deixar a música colar-se às minhas palavras. É desarmante, alguém que nos vê sem nos ver.
Este moço tem mais desenhos aqui.
1 comentário:
acho que vou convidar o moço para uma exposição cá no meu estaminé
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