Hoje a noite arrefeceu. Ainda não foi desta que nos livrámos das trovoadas e por isso o tempo continua abafado durante o dia. Sentei-me ao balcão para umas boas horas de conversa. É como aquela imagem do tipo desesperado que já bebeu demais e chateia o barman. Só que não bebi demais e não estou a chatear ninguém: estou basicamente a ouvir. Há alturas em que nos sentimos capazes de dizer as coisas mais inomináveis e que temos vergonha de confessar a nós mesmos. Porque sentimos uma certa proximidade. E porque nos parece aquele o único momento de despejar mais esse fardo e aliviar a pressão que nos esmaga a carne contra o coração.
Quando me sento ali, sinto que posso dizer tudo. Sinto que nada do que possa dizer me vai envergonhar ou espantar que me ouve. Aquele banco é muito mais do que um confessionário poderia ser. Não há religião enquanto falo com a mini à minha frente mas há um sentimento de apaziguamento quase comparável a um sacramento. Durmo melhor com esta heresia a escapar-me dos dedos do que com a pobreza das minhas escolhas.
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