Quando me deito, imagino-o deitado sem conseguir dormir. Tem um braço atrás da cabeça, sobre a almofada e apenas uns calções vestidos. Tentou escrever cinco páginas num caderno de capa preta, gasto pelas noites em que perdeu repentinamente a inspiração quando ia começar a rabiscar. Tentou escrever sobre o estado do mundo e sobre o método para ser feliz mas faltaram-lhe as palavras para tanta teoria vazia. Folheou as páginas incompletas como em todas as noites em que se senta para cumprir o ritual e, como em todas essas noites, suspira profundamente porque sente que não sabe para onde está a caminhar. É esta sensação de desnorte que o trava, que o deixa desorientado e que o impede de dormir tranquilamente. Tem o braço sob a cabeça enquanto tenta arranjar estratégias para nunca ser apanhado desprevenido, para estar sempre preparado para a catástrofe. É tão meticuloso que pensa todas as noites no momento exacto em que lhe roubaram a naturalidade e a vontade de ser livre para que nunca se esqueça e para que nunca volte a errar de novo.
1 comentário:
ainda não o conheces mas falas como se já o conhecesses bem. :)
Enviar um comentário