setembro 29, 2007

Glorious...

...morning. ... sight*. ... city.

Um dia que começou envergonhado por ainda apresentar algum azul no céu acabou feito num dia alagado e submerso em nevoeiro - um perfeito dia de Inverno. Continuamos a saltar estações e cada vez mais me convenço, como nos livros da Mafaldinha, que há homens a mexer nas nuvens. O trabalho que fluiu demasiado bem para ser verdade e, mesmo assim, tanto que ficou por fazer (lentamente, torno-me numa mestra do Outlook e decoro o meu calendário com dezenas de coisas que esqueci, recados que me deram, pedidos que ficaram por verificar). Treze alemães de sandálias e boné, entre homens e mulheres, representantes das nossas lojas na Alemanha, pois claro, a olharem para nós. O cheiro a aguardente logo que entraram não deixava mentir e a sobranceria com que nos olharam também não: para eles, somos o terceiro Mundo da Europa. Um Glorioso que não envergonhou mas desconsolou (já não sei exactamente quando é que o futebol perdeu quase toda a magia para mim, se na sucessão de derrotas, se no acumular de lugares medianos).

A noite está safa: vai começar a sessão dupla na 2: e há uma garrafa de tinto alentejano à minha espera na cozinha. Venha de lá esse touro enraivecido.

* Parque Eduardo VII, hoje, enquanto o dia nascia.

(post em atraso)



Uma semana sem computador... As coisas que aprendemos sobre nós numa semana sem computador e sem internet, a não ser nos breves momentos que conseguimos roubar do trabalho. Antes, tive uma semana de férias em que quase não existi de dia e à noite consegui baralhar ainda mais as minhas ideias (e as dos outros). Foi uma semana a dormir demais, a gastar todo o sono que levava daqui, a estar com pessoas daquelas, a parar. Fica aqui o que sobrou dos últimos dias. Que podia ser muito melhor, pudesse eu perder uma certa vergonha de empunhar a (deficiente) câmara. A vida continuou, no sítio do costume. E não, não foi no Pingo Doce.

As imagens são minhas e do filme In the land of women (legendas minhas), a música (Hands around your throat) é dos Death In Vegas.

setembro 28, 2007

My own private Haiku #2


Estar sem computador uma semana
dá saúde e
faz(-nos) sentir só(s).



Haiku é arte de dizer muito com pouco.

setembro 26, 2007

Efemérides (s) #2

Fez ontem três anos que deixei de fumar. Dia vinte e cinco de Setembro de dois mil e quatro, em Berlim. Tinha saído de um Karrera Klub no Roter Salon, estava com a cabeça a processar a mil à hora, tinha bebido algumas cervejas de meio litro. Lembro-me de ter estado a dançar sozinha no meio da massa de meninos e meninas indie que olhavam para nós com aquele ar afectado. Lembro-me da rapariga que, dançando com mais alguém, não tirava os olhos de mim e de como eu achava piada a ter aquele olhar colado ao meu. Lembro-me de me puxarem para as franjas da pista, para evitar que a multidão me engolisse. Lembro-me daquela loja de fruta, legumes e bebidas quase a chegar à Fernsehturm. Lembro-me de me sentar num banco de jardim, exactamente debaixo da torre: olhava para o alto daqueles duzentos metros de altura e pensava como era estranho estar ali, como a minha vida parecia completamente fora do meu controlo.
No dia seguinte acordei e não fumei. No outro a seguir a mesma coisa. E, apesar dos três ou quatro cigarros ocasionais que já fumei em ocasiões mais festivas, nunca mais tive vontade de fumar. Senti-me um bocado pateta no início, quando me sentava num café sozinha e não tinha nada a ocupar-me as mãos. Senti-me um pouco incompleta quando bebia um café depois da refeição sem nada a acompanhar. Senti-me menos cool, quando no meu primeiro emprego toda a gente achava que eu era uma totó por não fumar. Só que, ao mesmo tempo, sentia um grande orgulho em ter conseguido. E acordava mais bem disposta todas as manhãs. E os sabores revelavam-se outra vez. Foi a melhor decisão possível, apesar de não ter decidido nada. Aconteceu e pronto, hoje sou uma chata duma ex-fumadora.

setembro 24, 2007

Ontem, outra vez.


E todas as vezes que forem precisas. O meu filme preferido está cheio de poesia e a poesia deixa-nos dormir mais felizes.

setembro 22, 2007

Emotional cripple *

I want to strangle the stars for all they promised me.

É quando, a meio de uma conversa, damos conta que não sabemos que aquelas palavras estavam cá dentro à espera de serem ditas e nos assustamos com a frieza com que as ouvimos. De repente, ouvimo-nos a falar e ficamos com medo de sermos assim: frios, emocionalmente incapazes, aleijados. Na cara que está à nossa frente deixamos de ver o sorriso, que dá lugar a uma espécie de terror silencioso. Tudo o que esperávamos era uma reacção violenta, tudo o que conseguimos realmente é um pedaço de destruição. Está tudo mal quando queremos ser arrebatados em vez de acarinhados, quando queremos um mundo sem laços em vez de um olhar familiar. Está tudo errado quando rejeitamos proteger porque desejamos ser protegidos. Está tudo desorientado quando o coração se derrete mais com a insolência do que com a doçura. Eu sei exactamente o que não me faz feliz mas nem por isso consigo afundar-me menos. Não encontrei nenhuma redenção onde ela se parecia esconder: só consegui uma imagem mais clara e mais assustadora de mim mesma.

Done with the dark boys, through with the dark boys, I swear this'll be the last one.

Fui buscar o Liquid, dos Recoil, para me sentir ainda mais viciosa e perdida. Estas músicas manipulam os meus pensamentos e fazem-me sentir que sou apenas carne. Agora que escrevo isto percebo porque quis ouvi-las: quis esquecer-me que tenho um coração.

*ou um carrossel de emoções por onde me passeio dia sim, dia não, sem a mínima noção de quando vou parar ou sem saber que grande felicidade ou que infinita tristeza aí vem.

setembro 20, 2007

Dias (mais) felizes

Um bilhete para Bruxelas para visitar um grande, grande amigo. Um bilhete para ver God is an Astronaut, outro para Seu Jorge e ainda mais um para o David Fonseca, tudo em Portalegre. Um coração a sarar feridas antigas, varrendo os despojos que interessam deitar fora - é como uma limpeza grande de final de Verão. A cabeça a serenar no final das férias, mesmo sabendo que no mundo do trabalho tudo anda às avessas. Um Verão que não tem querido deixar-me, um calor que só espera que eu vá embora para ir embora também. A música dos Beirut a encher-me outra vez os dias, desta vez sem o coração a querer deixar-me o peito. Regressam as borboletas na barriga: assustam-me mas sabem bem.

setembro 19, 2007

Sobre design, música e coisas bonitas

Esta é a capa da agenda cultural de Portalegre, Marvão e Castelo de Vide para este mês de Setembro. Foi desenhada pelo Gonçalo Curado, cujo o trabalho eu desconhecia por completo. Sendo de Portalegre, acho que a composição está fantástica porque não corresponde, de maneira nenhuma, à realidade. É como se estivesse a olhar para um cenário futurista, em que o tradicional (a câmara, a estátua do D. João III) olha para o moderno, a urbe que se estende ao fundo.

Outra coisa igualmente bonita é este cartaz da Sónia Tavares. Serve o mesmo para dar a conhecer a programação do espaço Quina das Beatas nos próximos meses, em que teremos concertos a acontecer todas as sextas e sábados. Esta mistura (que penso ser conceptual, já que existe desde o primeiro dos cartazes) entre o religioso e o profano agrada-me muito e traduz na perfeição uma espécie de paradigma das maneiras de pensar em Portalegre.

E, para encerrar em beleza, demonstrando que esta terra está tudo menos morta, deixo-vos aqui este link e este link também para que possam espreitar (parte d') a programação cultural de Portalegre para os próximos tempos. De certeza que há aí alguma coisa que vos interessa!

This modern life...

Malta que está ausente mas, na verdade, está online. Pessoas que estão offline mas afinal falam conosco porque, aparentemente, fogem de alguém. Gente que está online mas não responde... Eu sinto-me cansada disto. Porque é uma coisa relativamente simples mas toda a gente tem a mania de a complicar. Isto é a forma que tenho de me sentir menos sozinha quando estou realmente sozinha em casa. Mas é também a forma de solidão mais moderna que conheço.

Hoje a noite arrefeceu. Ainda não foi desta que nos livrámos das trovoadas e por isso o tempo continua abafado durante o dia. Sentei-me ao balcão para umas boas horas de conversa. É como aquela imagem do tipo desesperado que já bebeu demais e chateia o barman. Só que não bebi demais e não estou a chatear ninguém: estou basicamente a ouvir. Há alturas em que nos sentimos capazes de dizer as coisas mais inomináveis e que temos vergonha de confessar a nós mesmos. Porque sentimos uma certa proximidade. E porque nos parece aquele o único momento de despejar mais esse fardo e aliviar a pressão que nos esmaga a carne contra o coração.

Quando me sento ali, sinto que posso dizer tudo. Sinto que nada do que possa dizer me vai envergonhar ou espantar que me ouve. Aquele banco é muito mais do que um confessionário poderia ser. Não há religião enquanto falo com a mini à minha frente mas há um sentimento de apaziguamento quase comparável a um sacramento. Durmo melhor com esta heresia a escapar-me dos dedos do que com a pobreza das minhas escolhas.

setembro 18, 2007

It's been a long time since I've seen me smile.

Vi isto pela primeira vez aqui e fiquei logo rendida. Enquanto ouvia a música, comecei a pensar que se calhar já chegou a altura de deixar de recusar a ideia de que posso ser feliz. Não prometo nada, apenas que vou tentar.

setembro 16, 2007

Sobre óptimas maneiras de começar umas férias

Nós temos imenso jeito em inventar acontecimentos e épocas que merecem ser festejados e desta vez não foi diferente: festejámos, pelo segundo ano consecutivo, o final do Verão. Não que eu fique muito contente por estarmos já a entrar no Outono mas é uma forma de juntar mais gente em torno de um objectivo comum.

Se há coisa com que eu deliro é com longas horas sentada à mesa, bebendo a minha cervejinha fresca enquanto chegam à mesa pratos de chouriço e cacholeira assados, febras grelhadas acompanhadas por uma salada completíssima de tomate, cebola, pimento e pepino acabados de colher. Tínhamos a nossa própria mercearia, é um facto, e podíamos colher o que nos apetecesse. Nenhum dos produtos tinha o aspecto a que estamos habituados nos supermercados: estes tinham um aspecto natural, real, nada de legumes calibrados e brilhantes. E eu gostei de andar no meio da horta, a tentar descobrir os pimentos mais maduros, a pisar aquela terra fofa, resultado das chuvas e trovoadas dos últimos dias.

Depois, porque estamos no meio de amigos, há sempre alguma coisa que nos entretenha. Pudemos conversar calmamente na sala onde estava o lume, pudemos jogar às cartas às escuras, pudemos dançar à desgarrada e ser surpreendidos pelos nossos próprios talentos, tivemos direito aos nossos momentos de stand up comedy, finalizados pelo toque da tarola e do prato. Acabei o fim de semana quase sem voz ou pelo menos sem vontade de a maltratar ainda mais. Já tenho uma razão para me poupar nas palavras.

Não havia nenhum barulho à nossa volta. Nenhuma casa habitada, nenhuma estrada concorrida, nenhum café. Éramos nós, na quinta da Broa, e a serra atrás de nós. A calma destas noites só foi interrompida pelas trovoadas que se mantêm sobre nós há uns dias e pela nossa tentativa em fazer música. Quando o Sol se pôs, não havia ninguém na rua nem nenhuma brisa a remexer as folhas daquela videira. O mundo tinha ficado no portão e só tínhamos que nos preocupar em comer e em beber. Acho que não aguentava uma semana inteira de despreocupação. OK, talvez aguentasse. Desde que tivesse um daqueles sofás para acabar as tardes deitada debaixo da videira, só a estar.

Broa Summer Festival



Imagens minhas + Girls dos Death In Vegas

setembro 15, 2007

modo [férias] activado

Oh yeah!

setembro 13, 2007

Lembrar(-me)

Sou como aquelas velhotas que teimam acumular bibelôs e recordações de todas as coisas que não têm o mínimo interesse. Guardo convites, panfletos, senhas, pacotes de açúcar, jornais, postais e cartas de antigos amores, moedas velhas, mensagens escritas, cassetes com os meus anos 90 lá dentro. Tenho um pavor irracional de deitar tudo fora, como se um dia destes, por acaso, fosse atacada por uma nostalgia cavalgante e tivesse que ter tudo aquilo de novo nas mãos.

Não fui capaz de, simplesmente, me ver livre da roupa que já não me serve ou passou de moda ou da qual (admito) nunca gostei. Em quase todos os casos, lembrava-me de um sítio onde tinha levado aquela camisola ou lembrava-me de como vestia aquela t-shirt sempre em dias especiais. Tenho ainda a roupa espalhada em cima da cama, por dobrar. Hei-de parecer uma empregada da Zara, a juntar as mangas atrás das costas, a esticar tudo devagar antes de enfiar todos os trapos num saco. Mas antes disso não resisti a guardar a imagem de tudo o que vou dar a alguém. Se calhar, é por estas que sou como sou. Estou atafulhada de recordações inúteis. A arrumação nunca foi, de facto, o meu forte.

setembro 11, 2007

Despedida (até sempre) *



Afastei os cortinados para que os potentes flashes pudessem entrar. Desliguei a música para ouvir a fúria dos trovões. Mas não fechei a janela com medo da chuva: encostada a uma parede, ouvi e vi chover, primeiro quase torrencialmente, depois de mansinho. Antes, pensava que o Verão ainda estava para durar. Há minutos atrás, pareceu-me ouvir à janela o primeiro vento de Outono.


*dizer adeus ao Verão, ao som das guitarras dos Dead Combo.

setembro 09, 2007

Dormir mais feliz #8


Is this darkness in you too?
Have you passed through this night?

Efeméride(s)

Não sei exactamente em que dia mas faz agora dez anos que me mudei para Lisboa. Há dez anos, ainda com dezassete anos muito tenros e impacientes, os meus pais deixavam-me sozinha naquelas águas furtadas da rua Sabino de Sousa, no Alto do Pina. Lembro-me perfeitamente da minha mãe a descer as escadas de madeira, esforçando-se para resistir às lágrimas. Conseguiu mas só até virar-se para trás, no primeiro lanço de escadas, e olhar para mim. Lembro-me de não saber o que fazer com tanto tempo livre nas mãos, com tanta liberdade, com aquela sensação de poder tudo.

Deixava um amor antigo em Portalegre, uma história que não viria a resistir ao desgaste imposto pela distância e ao facto de Lisboa me ter aberto os horizontes. Pode ser um lugar comum, é um lugar comum mas estar aqui fez-me perceber que eu podia mudar tudo, não tinha que ser escrava de alguma coisa pré-destinada. A noite que antecedeu o primeiro dia de aulas foi passada na nossa varanda, com a vista para Lisboa toda, com vista para o Tejo muito ao fundo - naquela casa, ganhei um amigo que me foi amparando pela vida fora e que me aturava as neuras como ninguém. Lembro-me de como fazíamos planos antes de virmos e do dia em que soube que tinha entrado para onde queria: uma garrafa de champanhe morno e já sem gás à porta do CAE de Portalegre, as pressas para tratar dos papéis, a alegria que (por já saber que entrava) não era bem alegria.

Já morei em vários bairros de Lisboa mas não me parece que haja amor como o primeiro. Gostava de ir ao café e encontrar as vizinhas em pijama, ver passar os desgraçados que faziam a vida na Curraleira, fazer compras nas mercearias pequenas. Nunca me hei-de esquecer da ingenuidade com que uma vez pedi ao senhor para me vender meio quilo de batata e de ele me trazer duas batatas na mão. Depois passei pelo largo do Leão, pela estrada de Benfica, pela Penha de França e por Telheiras. Até chegar aqui, a casa. E apesar de não ter sido o primeiro amor, esta rua entre Campo de Ourique e a Lapa conquistou-me facilmente.

Há dez anos atrás, Lisboa era o símbolo da minha independência e das infinitas possibilidades. Hoje ainda é mas, depois de já ter vivido em Berlim, percebi que me adapto facilmente e que o futuro pode ser num sítio qualquer. Mas ninguém me tira este amor cego pelo eléctrico 28, pela vista maravilhosa do miradouro de Santa Luzia, pelo nascer do dia no alto do Parque Eduardo VII, pelas ruas sujas e apinhadas de gente do Bairro Alto. Não sei se daqui a uns anos me considerarei lisboeta, parece-me que não. Mas, e se pensar que esta relação de amor-ódio já dura há dez anos, o mínimo que direi é que ela me deu tudo para mudar. E eu continuo a amá-la mas como alguém que veio de fora. É que dez anos já é uma vida.

setembro 08, 2007

A semana * num parágrafo

Houve uma tábua de queijos e presunto em Vila Franca de Xira. Houve a sensação que este Verão só agora tinha chegado a sério. Houve a indignação perante as manchetes diárias. Houve o primeiro embate com a minha nova equipa. Houve uma noite de sábado com música ao vivo, sorrisos e suor. Houve mais uma prova de que não quero crescer. Houve a roupa que me fazia mais magra e me tornava numa doutora. Houve a confirmação de que não sei reconhecer a felicidade. Houve mais um sábado de trabalho morno e de cabeça no ar. Houve alguém que embarcou num avião sem regresso marcado. Houve o ciúme recalcado. Houve a felicidade sincera de quem vê os outros concretizarem um grande sonho. Houve tentativas de sentir que a cantora de há 13 anos atrás ainda existe (não existe!).


E quando o escrevo assim, parece-me tudo uma grande coisa. Na verdade, a maior parte das coisas não passaram de trivialidades. De que é feita a vida, no entanto. Porque quem espera cenas cinematográficas a rasgar a vida habitua-se a momentos pequeninos para sorrir. Assim como a tarde em que se pede ao motorista do autocarro para esperar por um senhor que vem lá a correr. Nunca vai haver mais do que isto. Eu não me importo, desde que hajam mais tábuas de queijos daquelas.

* a vida?

My own private Haiku #1


Não há nada que
uma boa garrafa de rosé
não ajude a suavizar.



Haiku é arte de dizer muito com pouco.

setembro 06, 2007

Hey baby, lookin' good!

Ora chegámos exactamente ao ponto que eu temia. Chegámos à altura em que a minha chefe prega as virtudes duma apresentação mais cuidada, (desculpa lá, Marisa!), das calças de ganga que devem ceder o seu lugar à bonita calcinha vincada (desculpa lá, Marisa!), das mules em vez dos chinelos muito confortáveis mas desadequados (desculpa lá, Marisa!), de como todos olham para nós como modelos.

Ela fez exactamente isto: disse tudo isto e pediu-me desculpa de todas as vezes que sugeriu alguma alteração ao nosso aspecto. Que Portugal é um país onde se dá muito valor à imagem, que as pessoas querem superiores firmes mas bem vestidos, que é um sinal de maturidade e crescimento profissional. Toda uma conversa sobre a hipocrisia e como as nossas qualificações profissionais e aptidões sociais ou técnicas são assuntos menores quando comparados com a nossa aparência. A Marisa não concorda! e ria-se. E eu opinei, quase violentamente. Desde quando é que a nossa competência está ligada à nossa imagem? Já passou por ali muito boa gente que vestia calça vincada, pólo de marca e sapato de vela/bicudo e a quem não se renovou um contrato por serem manifestamente incompetentes ou desadequados. Não consigo imaginar equação mais parva do que roupa de senhora = melhor desempenho profissional.

Dizia ela que nos lugares de chefia o dress code importa e muito. Então e quem disse que eu queria mandar? E se quiser, porque é que não posso ser uma chefe de chinelos e calças de ganga confortáveis? É assim tão mau não arranjar as unhas todas as semanas ou não usar o corte de cabelo da moda? Eu quero ser muito boa profissional. Mas se a condição essencial para o conseguir é usar roupa de senhora e transformar-me na verdadeira yuppie, então começo a ter as minhas reservas. Eu cá não quero ser de plástico.

A calhar, este video dos Coldfinger.


setembro 05, 2007

Tens razão, sou eu.

Sou eu, completamente despegada da minha terra e a ser consumida pelas saudades quando estou muito tempo sem lá ir. Sou eu, agarrada ao volante de um carro que teima em funcionar, que me arrasta pelo alcatrão quente na recta de Pavia. Sou eu, a remexer as memórias e a montar todas as recordações de novo, a tentar mudar o rumo das coisas que já fiz e a tentar escapar à previsibilidade do que ainda aí vem. Sou eu, a aproveitar todos os momentos em que estou em silêncio para silenciar também a minha cabeça. É um coração avariado, passeando a sua desordem à beira dos rebanhos incandescentes, como na música d'A Naifa. Sou eu, sim senhor. Até as sobrancelhas carregadas e negras que herdei da minha família paterna estão lá.

É paradoxal, sentir que há um retrato que nasce das minhas palavras. Não foi preciso que este par de olhos se cruzasse com o meu par de olhos: só foi preciso escrever e deixar a música colar-se às minhas palavras. É desarmante, alguém que nos sem nos ver.

Este moço tem mais desenhos aqui.

setembro 04, 2007

Ténue fronteira

Depois de alguém se manifestar incomodado com a forma como respondi (não fui galante nem delicada, acham), a minha chefe decide entregar-me os destinos dessa equipa. Estou com sérias dificuldades em distinguir o castigo da recompensa.

setembro 03, 2007

Sobre diferentes formas de percepção


Obadiah Parker, Hey Ya
!

Absolutamente delicioso. Mais uma obra do acaso, descoberta neste site. Eu participaria também, se ao menos tivesse algum talento musical.


setembro 02, 2007

Acho que é capaz de ser a isto que chamam picos de humor. Depois de um fim de semana cheio de gente em casa, de ver gente na rua, de pessoas que chegam e pessoas que partem, há uma espécie de solidão instalada no primeiro andar direito do número treze. Por precisar de conforto, encaracolo-me sobre mim e decido só abrir os olhos amanhã. Pestanejar só quando o dia prometer qualquer coisa de bom.

Restos da noite de ontem

Um olho a controlar-me todos os movimentos e uma voz na cabeça, dizendo que errei outra vez. Mas eu gosto de errar assim e conheço bem os meus limites: não há nada a impedir-me de tropeçar novamente. É a vertigem a tomar conta dos meus passos.

setembro 01, 2007

Até já! *


Às sete da manhã já estávamos a pé, para que pudesses começar a tua nova vida a tempo e horas. Era uma mala demasiado grande, dizias tu. Não levas quase nada, argumentava eu. A verdade é que levas muita coisa contigo para Bruxelas: a tua vontade de fazer bem, o desejo de pertenceres a alguma coisa maior, a coragem de arriscar. Vais-me fazer tanta falta... Vou ter saudades das médias, das conversas de fim de noite, das apostas e tira teimas que resolvemos com o Google, das tuas queixas sobre o jornalismo, das tuas ideias sobre tudo. O tempo passa depressa, eu sei, mas é estranho. Mesmo assim, podemos já dizer Até Novembro! e fazer de conta que faltam só dois dias. Ficamos todos a torcer por ti!

* com a mascarilha que pediste, para que possas espreitar toda a gente :)