Primeira foto por T.
Com o avançar da noite, as coisas deixam de ser reais. Todos os momentos que passo a pensar nele, todas as tardes em que me estendo na cama e tento ouvir a chuva que cai lá fora, todas as noites em que fico desperta a ouvir as paredes centenárias e a madeira desta casa deixam de existir. As memórias gastam-se, aniquilam-se e esbatem-se quando começa a madrugada. Subitamente, sou livre. Subitamente, movo-me depressa demais, bato a porta dum carro, levanto dinheiro e evito as poças no chão, entro e a música está demasiado alta e o fumo por todo o lado. Não há mais passado ali. Não há desgosto nem vontade de deixar tudo para trás. Com o avançar da noite, sou toda sorriso e braços no ar. E por isso, quando ele me passa a mão pela cintura, eu finjo que são outros braços que me tocam em segredo, no meio da pista. Para adormecer, basta-me fechar os olhos, não dou tempo ao sonhos para deixarem a cavidade obscura onde nascem.
2 comentários:
Como começas e tão bem "com o avançar da noite, as coisas deixam de ser reais".
Subitamente nada nos chega, só a liberdade... e mais nada existe!
Escreves muito bem, fiquei fã!
Beijos
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