Quando me deito, imagino-o deitado sem conseguir dormir. Tem um braço atrás da cabeça, sobre a almofada e apenas uns calções vestidos. Tentou escrever cinco páginas num caderno de capa preta, gasto pelas noites em que perdeu repentinamente a inspiração quando ia começar a rabiscar. Tentou escrever sobre o estado do mundo e sobre o método para ser feliz mas faltaram-lhe as palavras para tanta teoria vazia. Folheou as páginas incompletas como em todas as noites em que se senta para cumprir o ritual e, como em todas essas noites, suspira profundamente porque sente que não sabe para onde está a caminhar. É esta sensação de desnorte que o trava, que o deixa desorientado e que o impede de dormir tranquilamente. Tem o braço sob a cabeça enquanto tenta arranjar estratégias para nunca ser apanhado desprevenido, para estar sempre preparado para a catástrofe. É tão meticuloso que pensa todas as noites no momento exacto em que lhe roubaram a naturalidade e a vontade de ser livre para que nunca se esqueça e para que nunca volte a errar de novo.
fevereiro 29, 2008
fevereiro 28, 2008
A inocência, como a ignorância, é uma benção
[no 738, miúda de 3/4 anos conversa com a mãe]
Miúda: E mãe, a erva está molhada, não é?
Mãe: Sim filha, é que esteve a chover hoje de manhã.
Miúda: E as flores, mãe? Estão cheias de xixi de cão e cocó de cão, não é?
[mãe ignora pergunta e olha à volta discretamente para tentar perceber se alguém ouviu, dá de caras com o meu sorriso]
Miúda: E mãe, a erva está molhada, não é?
Mãe: Sim filha, é que esteve a chover hoje de manhã.
Miúda: E as flores, mãe? Estão cheias de xixi de cão e cocó de cão, não é?
[mãe ignora pergunta e olha à volta discretamente para tentar perceber se alguém ouviu, dá de caras com o meu sorriso]
fevereiro 27, 2008
É uma ideia que me anda na cabeça há uns tempos. Já tinha falado com este moço e com este também mas ainda não tinha passado à acção. Como sempre gostei da ideia, de as fazer e ainda mais de as receber, resolvi partilhar com mais gente as minhas compilações, as músicas que eu escolhia para ouvir em repeat. Se alguém quiser experimentar, é só clicar ali em baixo (e seguir as instruções). Se houver mais gente com vontade de partilhar, eu sou toda ouvidos.
Música para dias melancólicos:
M e l a n c h o l y . r a r
(inclui ficheiro com músicas/artistas não necessariamente por ordem de aparição)
M e l a n c h o l y . r a r
(inclui ficheiro com músicas/artistas não necessariamente por ordem de aparição)
Goodbye and good luck
Vá. Digamos que correu diferente do que esperava. E não exactamente para melhor. Talvez por nunca ter ido a uma entrevista sem resposta quase imediata, a tarde de hoje não acabou como eu gostava que tivesse acabado.
(havia de tudo: a menina afectada que bufava sempre que havia um compasso de espera, o grandalhão que decorou todos os números sobre as últimas vendas da empresa, a moça que falava um inglês tão mau que ninguém se atrevia a pedir-lhe para repetir nada, a rapariga faladora e demasiado auto-confiante, o manager que era a definição perfeita do que é ser yuppie. E eu, sempre demasiado calada e com medo de parecer desadequada ou esquisita)
* Ah! E obrigada por todos os vossos votos de confiança. Talvez se os tivesse lido mais cedo pudesse estar agora menos frustrada...
(havia de tudo: a menina afectada que bufava sempre que havia um compasso de espera, o grandalhão que decorou todos os números sobre as últimas vendas da empresa, a moça que falava um inglês tão mau que ninguém se atrevia a pedir-lhe para repetir nada, a rapariga faladora e demasiado auto-confiante, o manager que era a definição perfeita do que é ser yuppie. E eu, sempre demasiado calada e com medo de parecer desadequada ou esquisita)
* Ah! E obrigada por todos os vossos votos de confiança. Talvez se os tivesse lido mais cedo pudesse estar agora menos frustrada...
Sobre a ansiedade
Em primeiro lugar, as minhas palavras vão para todas as cabeleireiras deste Mundo. Minhas caras, tenho esperança que um dia entendam que eu NÃO QUERO PINTAR O CABELO NEM TENHO VERGONHA DE TER CABELOS BRANCOS! Agora que, pela enésima vez, esclarecemos este ponto, passemos ao que realmente interessa.
Amanhã é, então, dia de fazer testes e entrevistas e nervoso miudinho enfiada no meu melhor modelo mas sem saltos altos que Barcelona ainda está a fazer das suas no meu calcanhar. Portanto, e porque já precisava, dei um jeito no cabelo para que tudo esteja perfeito quando amanhã pisar aquele hotel perto do mar. Imprimi os documentos necessários, revi a história da empresa e, melhor que tudo, soube de fonte segura qual o número de vagas para o lugar e vislumbrei um pouco das minhas hipóteses de conseguir uma delas. As duas pessoas que me são mais próximas no departamento também estão em risco de sair. Talvez seja um ciclo que se fecha aqui.
Se por um lado não sinto a pressão do dia de amanhã - porque tenho um emprego seguro -, por outro estou moderamente assustada. Quero mudar de emprego mas não quero perder esta descontracção que às vezes sinto. Quero ficar onde estou mas não quero ganhar este ordenado e ver aumentadas as minhas responsabilidades. Vou tentar baixar o nível das minhas expectativas. Mas que já sinto um friozinho no estômago... Isso já.
Amanhã é, então, dia de fazer testes e entrevistas e nervoso miudinho enfiada no meu melhor modelo mas sem saltos altos que Barcelona ainda está a fazer das suas no meu calcanhar. Portanto, e porque já precisava, dei um jeito no cabelo para que tudo esteja perfeito quando amanhã pisar aquele hotel perto do mar. Imprimi os documentos necessários, revi a história da empresa e, melhor que tudo, soube de fonte segura qual o número de vagas para o lugar e vislumbrei um pouco das minhas hipóteses de conseguir uma delas. As duas pessoas que me são mais próximas no departamento também estão em risco de sair. Talvez seja um ciclo que se fecha aqui.
Se por um lado não sinto a pressão do dia de amanhã - porque tenho um emprego seguro -, por outro estou moderamente assustada. Quero mudar de emprego mas não quero perder esta descontracção que às vezes sinto. Quero ficar onde estou mas não quero ganhar este ordenado e ver aumentadas as minhas responsabilidades. Vou tentar baixar o nível das minhas expectativas. Mas que já sinto um friozinho no estômago... Isso já.
fevereiro 23, 2008
fevereiro 22, 2008
Lucky clover
Um bocado distraída, enviei um currículo na terça-feira sem sequer pensar muito a sério na vaga. Foi mais uma reacção automática, depois de concluir que preciso mesmo de outros ares. E eis senão quando!, recebo uma chamada hoje de uma menina inglesa, fazendo-me umas perguntas adicionais e acusando a recepção do currículo. Quarta-feira já está marcado um dia inteiro de testes, o que seria mais ou menos perfeito se o dress code não fosse formal. É mais um passo em direcção à burguesia mas todo o aumento de capital que conseguir é extremamente desejado.
Entretanto, e ironicamente, hoje foi o dia da minha avaliação trimestral, onde se comenta a evolução na posição, discutem as dificuldades encontradas no seio das equipas e se estabelecem planos de acção. Fui das únicas três pessoas que ultrapassaram a barreira dos noventa por cento mas foram-me apontadas falhas que nunca conseguirei eliminar. Porque resultam da contradição das estratégias dentro do departamento e porque o ramo de negócios é inconstante. Discuti a possibilidade de melhorar mas, intimamente, fazia planos para deixar para trás esta instabilidade. Quando me proponho a alguma coisa, faço-o com determinação mas propus-me avançar e mudar de capítulo e agora não há nada que me possa parar.
Entretanto, e ironicamente, hoje foi o dia da minha avaliação trimestral, onde se comenta a evolução na posição, discutem as dificuldades encontradas no seio das equipas e se estabelecem planos de acção. Fui das únicas três pessoas que ultrapassaram a barreira dos noventa por cento mas foram-me apontadas falhas que nunca conseguirei eliminar. Porque resultam da contradição das estratégias dentro do departamento e porque o ramo de negócios é inconstante. Discuti a possibilidade de melhorar mas, intimamente, fazia planos para deixar para trás esta instabilidade. Quando me proponho a alguma coisa, faço-o com determinação mas propus-me avançar e mudar de capítulo e agora não há nada que me possa parar.
Dormir mais feliz #11
with my idle hands
there's nothing i can do
but be the devil's plaything, baby
and know that i've been used
there's nothing i can do
but be the devil's plaything, baby
and know that i've been used
fevereiro 21, 2008
Correr por gosto
É beber uma taça inteira de café para conseguir despachar os compromissos a tempo. Não exactamente para me manter acordada mas para desfrutar ainda mais de uma coisa de que gosto. Não posso estar a ouvir música porque o Benfica está a jogar [espero uns minutos em frente à televisão para escrever Golo! mas não tenho sorte nenhuma]. Já vamos em mil e quinhentas palavras e ainda não percebi exactamente quando parar. É que, como em tantas outras coisas, tenho sempre mais e mais para dizer.
fevereiro 20, 2008
Coisas em que acredito *
Ou Nada é impossível, no meu frigorífico para lembrar-me sempre.
* como ninguém jogar em campeonatos diferentes ou motoristas de autocarro que não arrancam assim que nos vêem correr ou uma dor de tornozelo que se arrasta há mais de uma semana ou na doce sensação do dever cumprido ou em música pirosa ou que dormir bem sem remédios é possível ou que ainda existem coincidências ou que eu consigo o que quero
fevereiro 19, 2008
Onze do cinco de dois mil e oito
Definitivamente, alguém decidiu brincar com a minha sanidade mental e com a minha carteira. Depois de os perder vergonhosamente no SW deste ano, vou conseguir vê-los. Quanto mais o tempo passa, mais me rio de quem dizia que era um ano fraco em concertos...
You know I dreamed about you for twenty-nine years before I saw you. You know I dreamed about you, I missed you for... for twenty-nine years (dissesse o moço vinte e oito anos e isto era perfeito)
M. e a globalização
Se há coisa de que gosto é desta ideia de mercado livre, do qual podemos usufruir e que derruba as barreiras geográficas mais impossíveis. Hoje foi dia de receber correio, uma ocasião tão inesperada como (mesmo assim) aguardada. Em causa, estavam umas carteiras que tinha comprado para oferecer no Natal (!) a umas amigas e que, até agora, não tinham chegado. É óbvio que entretanto os planos foram remendados e agora as carteiras ficam em stock até que surjam outras ocasiões mas não nego que fico deslumbrada com o facto de já terem andado pela Tailândia! É um mercado livre e gigantesco, sim senhor, mas ainda a carecer de sentido de orientação...
(ainda assim, para quem quiser conhecer a loja, é só clicar aqui: podem atrasar-se nas entregas mas há ideias originais até perder de vista)
fevereiro 18, 2008
Acordei de duas em duas horas na noite passada. Naquele silêncio profundo que só existe à noite, deixei-me estar de olhos abertos, sobressaltada apenas pelos relâmpagos e trovões. Não sei se não dormi por saber que ia voltar ao trabalho ou por não me conseguir esquecer. Tento apagar as memórias mais recentes da minha cabeça para conseguir dormir em paz. Como é que se esquece uma coisa que nos faz sentir viva? Como é que se ignoram as borboletas na barriga? Como é que se finge que nada nos magoa? Não sei se quero apagar a luz outra vez.
fevereiro 17, 2008
Foi um final em grande. Às nove da manhã, estava a entrar em casa e encontrei os meus pais a prepararem-se para o pequeno almoço. Na cabeça, estavam horas e horas de conversa séria e conversa sem nexo, a insistência em chamarem-me xô doutora, a música que fui escolhendo e dançando mesmo com o calcanhar avariado, um número de telefone que perdi nesta mesma manhã. E outra vez esta sensação de possibilidade...
fevereiro 16, 2008
Não acredito que já está. Não quero imaginar sequer que segunda-feira volta a ser dia de acordar com escuro ainda lá fora, ir de olhos fechados até à cozinha e preparar o pequeno-almoço às cegas. Não quero regressar e responder mil vezes que as férias foram boas mas curtas, como sempre, como toda a gente responde, como todas as vezes que estou longe daquele sexto andar. A única coisa que me conforta é que já comprei o jornal hoje para espreitar as ofertas de emprego e que resolvi finalmente tentar mudar de vida. Preciso urgentemente de mudar, de sentir o sangue fresco a correr nas veias, do coração a palpitar de ansiedade. Estar confortável não chega, quero mais que isso. E, só por isso, que venha segunda-feira que já estou com um bocadinho de pressa.
[já para não falar da embrulhada em que anda esta cabeça e de como, se calhar, até preciso trabalhar para tentar ocupar a minha cabeça durante oito horas por dia e não deixar espaço para estas loucuras que me andam a roubar o sono e a acelerar o coração]
[já para não falar da embrulhada em que anda esta cabeça e de como, se calhar, até preciso trabalhar para tentar ocupar a minha cabeça durante oito horas por dia e não deixar espaço para estas loucuras que me andam a roubar o sono e a acelerar o coração]
fevereiro 15, 2008
fevereiro 14, 2008
De p*** madre!
Regressar é... triste, acho eu. Vim de Barcelona completamente apaixonada pela cidade, fascinada pela gente e pela quantidade de sítios bonitos para ver, cheia de recordações e de segredos. Fiquei instalada mesmo no centro, no bairro do Raval, numa perpendicular às Ramblas. É uma espécie de Kreuzberg de Barcelona (para quem não sabe, Kreuzberg é um bairro multi-étnico de Berlim), cheia de lojas abertas todo o dia e toda a noite, gente limpa e gente suja, prostitutas e velhinhos curvados.
Era o quarto andar com as escadas mais impossíveis do mundo e nenhum elevador. A casa era partilhada com três portugueses e uma italiana. Durante estes dias, entrou e saiu gente de todo o lado do Mundo naquela casa (não me esqueço da chinesa que nasceu na Alemanha ou da chilena calada). Passei grande parte do tempo sozinha: andei tanto mas tanto que acho que trouxe uma lesão no calcanhar esquerdo. Visitei tudo sem mapa, só guiada pelo instinto e pelas plantas nas estações de metro. Tinha apontado tudo o que queria ver no Moleskine e sabia que, mais cedo ou mais tarde, ia conseguir ver tudo. O que eu não sabia é que Barcelona é uma cidade para se viver e não só para se visitar.
Levaram-me a comer tapas e a beber claras no Lalola, enquanto velhas comiam churros e bebiam chocolate quente ao jantar. Perdi-me no Bairro Gótico, no Born e na Gràcia, sozinha e com guia. Bebi vinho num bar com luzes quentes onde podíamos estar deitados, passei o final do dia sentada na areia fria e húmida da Barceloneta. Bebi uma cerveja num bar cheio de gente cheia de droga, a decoração era a de uma boite decadente e a música era soul da boa.
Que cidade... Ou isso ou eu sou uma tonta que não resiste às vozes roucas do flamenco e à gente de todo o lado misturada nas ruas cheias de mais gente de todo o lado e ao catalão que, mesmo seco e difícil, me conquistou o ouvido. E uma tonta que também não resiste às portadas de madeira em todas as janelas e ao horário da siesta e às ruas escuras e estreitas. Regressei mas [clichè] deixei lá um pedaço de mim. Mas eu volto, em breve eu volto. ¡ Y olé!
PS: miúda, não voltei mais cedo por causa do jet lag!
fevereiro 08, 2008
B is for Barcelona
Fotografia daqui.
Chega de ficheiros e medições e pessoas que se despedem. Chega de noites mal dormidas porque se sabe que a próxima manhã é sempre cedo demais. Chega de férias passadas enfiada em casa à espera que se façam horas de ir para os copos. Chega de hóspedes indesejados na minha cabeça, tomando conta de todos os momentos que tenho para pensar. Chega de ter saudades. Chega de computador e internet e inércia.
Vou ter sol, gente que me apetece rever e tempo para fotografar. Até quarta.
Vou ter sol, gente que me apetece rever e tempo para fotografar. Até quarta.
Campo de Ourique by night ♥
Uma mesa cheia de azeitonas, queijo e couratos. Jarros de vinho nada desprezível. O restaurante demasiado bem frequentado para o nosso gosto. O concurso onde todos deveríamos ir ganhar dinheiro. Portalegre, Barcelona e Nova Iorque. A não intelectualidade (eu fui primeiras!), a escatologia e as histórias da terra. Gosto de vocês, pá.
fevereiro 07, 2008
Abrir precedentes
Não gosto muito de excepções. Dou-me melhor com aquilo que é certo do que com terrenos movediços e por isso não me dou mal com rotinas. Quando se permite uma excepção, abre-se todo um caminho para o descontrolo e para a imprecisão. Não é que eu seja fundamentalista: é só como me sinto mais confortável.
No trabalho, por exemplo... Há um conjunto pouco complicado de regras a cumprir, que envolvem pontualidade, produtividade e espírito de equipa. Até uma certa altura, todos éramos obrigados a cumpri-las na íntegra (sem grandes esforços nem grande controlo) para que tudo funcionasse na perfeição. Agora, admitem-se todos os dias excepções, muitas das vezes por motivos absurdos, o que vai levar a uma rebaldaria impossível de controlar. Pervertem-se os princípios e a honestidade das pessoas, premeia-se o jogo de aparências e retira-se a importância ao cumprimento das regras. Aquilo que me consola é que mais tarde não vou ter que ser eu a tomar decisões ou a jogar o trunfo da mão de ferro: quando a altura chegar, eu vou estar sentada na minha cadeira, a ver a manhã avançar sobre Lisboa, a fixar-me na ponte 25 de Abril e no Cristo Rei por alguns segundos, enquanto penso que o poder é difícil de exercer.
E no amor? Aí nem gosto de falar de excepções. Principalmente, porque estou constantemente a concedê-las. Primeiro decidi que não me queria apaixonar mas como isso não é uma coisa que se consiga assim, do pé para a mão, reconsiderei e decidi que podia ser de vez em quando. Portanto, andava a apaixonar-me de tempos a tempos, sem pensar muito nisso. Só que arranjei sempre maneira de me apaixonar pelas coisas e pelas pessoas erradas, ou porque a ocasião era a menos feliz, ou porque eu e a coisa/pessoa não estávamos no mesmo comprimento de onda. E aí decidi que não voltaria a apaixonar-me por coisas/pessoas impossíveis (assim do género a vida é óptima desta maneira, ai mas eu nunca te disse que gosto de ser livre/tenho namorada/não sei o que quero/não quero ninguém?) mas a verdade, a verdade verdadinha, é que não consigo. Desde a primeira vez que caí nesta que não me consigo levantar e há sempre mais um encanto na manga que me apaixona à primeira.
Então e a rádio? Basta sintonizarem o bicho naqueles canais manhosos que dão as mesmas músicas há dez anos consecutivos e os últimos êxitos de cordel e eu dou comigo a bater o pé. Fosse a minha cabeça e o meu coração como um rádio e a minha vida era muito melhor: ou baixava o som ou mudava de posto. Excepções é que nunca mais.
No trabalho, por exemplo... Há um conjunto pouco complicado de regras a cumprir, que envolvem pontualidade, produtividade e espírito de equipa. Até uma certa altura, todos éramos obrigados a cumpri-las na íntegra (sem grandes esforços nem grande controlo) para que tudo funcionasse na perfeição. Agora, admitem-se todos os dias excepções, muitas das vezes por motivos absurdos, o que vai levar a uma rebaldaria impossível de controlar. Pervertem-se os princípios e a honestidade das pessoas, premeia-se o jogo de aparências e retira-se a importância ao cumprimento das regras. Aquilo que me consola é que mais tarde não vou ter que ser eu a tomar decisões ou a jogar o trunfo da mão de ferro: quando a altura chegar, eu vou estar sentada na minha cadeira, a ver a manhã avançar sobre Lisboa, a fixar-me na ponte 25 de Abril e no Cristo Rei por alguns segundos, enquanto penso que o poder é difícil de exercer.
E no amor? Aí nem gosto de falar de excepções. Principalmente, porque estou constantemente a concedê-las. Primeiro decidi que não me queria apaixonar mas como isso não é uma coisa que se consiga assim, do pé para a mão, reconsiderei e decidi que podia ser de vez em quando. Portanto, andava a apaixonar-me de tempos a tempos, sem pensar muito nisso. Só que arranjei sempre maneira de me apaixonar pelas coisas e pelas pessoas erradas, ou porque a ocasião era a menos feliz, ou porque eu e a coisa/pessoa não estávamos no mesmo comprimento de onda. E aí decidi que não voltaria a apaixonar-me por coisas/pessoas impossíveis (assim do género a vida é óptima desta maneira, ai mas eu nunca te disse que gosto de ser livre/tenho namorada/não sei o que quero/não quero ninguém?) mas a verdade, a verdade verdadinha, é que não consigo. Desde a primeira vez que caí nesta que não me consigo levantar e há sempre mais um encanto na manga que me apaixona à primeira.
Então e a rádio? Basta sintonizarem o bicho naqueles canais manhosos que dão as mesmas músicas há dez anos consecutivos e os últimos êxitos de cordel e eu dou comigo a bater o pé. Fosse a minha cabeça e o meu coração como um rádio e a minha vida era muito melhor: ou baixava o som ou mudava de posto. Excepções é que nunca mais.
Genial <3
#80.2 - VAMPIRE WEEKEND - The Kids don't stand a chance
Ouço a música destes rapazes e sinto-me numa ilha tropical, bebendo um daqueles batidos enfeitados com uma sombrinha, pronta para dançar o limbo. São os meus amores do momento e parece-me que vêm para ficar.
(este site continua a dar cartas na música ao vivo... grande grande ideia!)
Ouço a música destes rapazes e sinto-me numa ilha tropical, bebendo um daqueles batidos enfeitados com uma sombrinha, pronta para dançar o limbo. São os meus amores do momento e parece-me que vêm para ficar.
(este site continua a dar cartas na música ao vivo... grande grande ideia!)
fevereiro 06, 2008
Uma outra maneira de fazer turismo
É óbvio que a melhor forma de conhecer outro país é ir lá. É enfiar-me num avião, aterrar em solo desconhecido, sacar do mapa da cidade ou das estradas e tentar ver em poucos dias tudo aquilo que esse novo país tem para conhecer. Acrescenta-se a isso saborear a gastronomia ou a ausência dela, o contacto com as pessoas nativas para confirmar/destruir os estereótipos e a imersão numa forma de viver totalmente diferente.
Em alternativa, temos os amigos que visitam sítios e nos oferecem pedacinhos desses sítios para que possamos, superficialmente, sentir que estivemos lá. A mulher do meu afilhado trouxe-me prendas da base americana das Lajes, a saber: um charuto com sabor a framboesa e uma bola de basebol (na foto). E ainda comi Skittles ácidos e havia outros de frutos do bosque e sacos de pilotos. Já me tinham trazido uma mão cheia de recordações do Egipto, maioritariamente amuletos para melhorar a minha sorte. Ainda não senti o efeito deles mas senti que se lembraram de mim e me quiseram oferecer um bocadinho do turismo deles. Para a próxima, ficou prometida a luva. E um destes dias é verem-me a treinar passes num jardim qualquer de Lisboa.
Em alternativa, temos os amigos que visitam sítios e nos oferecem pedacinhos desses sítios para que possamos, superficialmente, sentir que estivemos lá. A mulher do meu afilhado trouxe-me prendas da base americana das Lajes, a saber: um charuto com sabor a framboesa e uma bola de basebol (na foto). E ainda comi Skittles ácidos e havia outros de frutos do bosque e sacos de pilotos. Já me tinham trazido uma mão cheia de recordações do Egipto, maioritariamente amuletos para melhorar a minha sorte. Ainda não senti o efeito deles mas senti que se lembraram de mim e me quiseram oferecer um bocadinho do turismo deles. Para a próxima, ficou prometida a luva. E um destes dias é verem-me a treinar passes num jardim qualquer de Lisboa.
fevereiro 04, 2008
Parece-me que chamam a isto o pleno.
Não ir a casa durante três semanas tem destas coisas: todo o dinheiro que devia ter recebido lá nestas mesmas semanas ficou sossegado, à espera que eu regressasse. Acontece que as finanças andam mais ou menos equilibradas, logo o meu primeiro impulso foi pensar num fundo para concertos. O de Portishead já estava comprado, hoje tratei dos outros antes que esgotem.
Também estive nesta loja, porque, sendo uma pessoa de impulsos, vi uma t-shirt que ficava a matar a um amigo e resolvi comprá-la -não interessa que exista ou não uma ocasião *. Fica perto do King e tem coisas giríssimas. A loja online funciona muito bem e as respostas são personalizadas. Às vezes sinto que podia escrever um tratado sobre como gastar uma pipa de massa em apenas alguns minutos mas, na verdade, não me quero lembrar disso. Exactamente por esta razão é que muitas vezes termino as compras literalmente de olhos fechados: é porque assim parece que o dinheiro nunca deixou o meu bolso.
* [Edit: não existia nem vai existir. Passou a ser minha.]
Também estive nesta loja, porque, sendo uma pessoa de impulsos, vi uma t-shirt que ficava a matar a um amigo e resolvi comprá-la -
* [Edit: não existia nem vai existir. Passou a ser minha.]
fevereiro 02, 2008
fevereiro 01, 2008
Voltar a casa
Voltar a casa depois de três semanas consecutivas em Lisboa é muito bom. Acordo sem despertador e em pleno silêncio: não há ruído nenhum nesta manhã fria de sexta-feira. Não há ninguém em casa, a televisão continua desligada, o sofá desocupado. Como todos os dias em que estou em casa, espreito à janela o dia que ainda me fere os olhos e tento decidir, sem abrir a janela, se vou gelar ou se faz aquele calor morno. Em cima da mesinha da sala, há uma montanha de Nova Gente e Caras que a minha mãe me guardou, como sempre, para que eu possa saber tudo aquilo que ninguém precisa de saber.
Imaginei muitas vezes nos últimos tempos como seria viver aqui agora. Pensei na sensação de tranquilidade que era ouvir os miúdos que saem da escola do Atalaião ou da maravilha que era nunca ter que fazer uma viagem ao Domingo. E pensei como podia lanchar nos meus avós, como sempre, um dia em casa de uns, outro dia em casa dos outros. E explicava à minha avó que não posso comer bifanas em todos os lanches, é carne a mais, parece um jantar e ela continuava a insistir. Pensei como a minha vida deixaria de ser agitada, sem gastar tempo dentro de autocarros cheios de gente mal educada e pouco civilizada e podia só andar a pé, estar em dez minutos em qualquer parte da cidade.
Mas não posso. E nem quero deixar Lisboa. E voltar a casa depois de três semanas é melhor porque é como conseguir respirar fundo outra vez. No resto do tempo, é só uma questão de respirar normalmente. As coisas boas têm sempre um preço alto demais.
Imaginei muitas vezes nos últimos tempos como seria viver aqui agora. Pensei na sensação de tranquilidade que era ouvir os miúdos que saem da escola do Atalaião ou da maravilha que era nunca ter que fazer uma viagem ao Domingo. E pensei como podia lanchar nos meus avós, como sempre, um dia em casa de uns, outro dia em casa dos outros. E explicava à minha avó que não posso comer bifanas em todos os lanches, é carne a mais, parece um jantar e ela continuava a insistir. Pensei como a minha vida deixaria de ser agitada, sem gastar tempo dentro de autocarros cheios de gente mal educada e pouco civilizada e podia só andar a pé, estar em dez minutos em qualquer parte da cidade.
Mas não posso. E nem quero deixar Lisboa. E voltar a casa depois de três semanas é melhor porque é como conseguir respirar fundo outra vez. No resto do tempo, é só uma questão de respirar normalmente. As coisas boas têm sempre um preço alto demais.
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