janeiro 13, 2009

They'll never take the good years

Uma destas noites, conversava com ele em surdina como é habitual.

(se algum dia conseguir explicar o que me uniu um dia a ele, todas as coisas do mundo perdem o encanto)

Ele falava-me daquela que deixara agora de ser sua namorada, de como tinha lutado para a manter consigo e de como tinha falhado. Outra vez. Dizia-me que o amor também é isto, perceber quando tudo deixou de fazer sentido, cruzar as mãos em sinal de desistência, apagar o brilho dos olhos voluntariamente. E disse-me que agora não procura nem deseja pessoa nenhuma - sente-se tranquilo por saber que existem no Mundo, vivem no Mundo pessoas que já o fizeram muito feliz.

(ele dá-me tanto à distância e sem o saber, os mimos das palavras e das pequenas massagens ao ego, as memórias)

Fico feliz quando me lembro da maneira como me agarraste na tua varanda numa noite de Verão, todos dentro de casa e nós os dois contrariando o desejo de nos despirmos só porque sim. Salta-me um sorriso de todo o tamanho quando me lembro daquela noite em que me sentia mal e tu me levaste para casa e puseste a tocar a Emiliana Torrini e te ajoelhaste à beira da cama, a tratar de mim com a doçura do teu olhar. Enche-se de calor o meu peito quando me lembro daquela vez em que te dei banho numa enorme banheira antiga, deixando a água escorrer lentamente pelas tuas costas. Marcou-me o dia em que, em pleno Terreiro do Paço, me beijaste de repente, como se a oportunidade nunca mais se repetisse, como se algum dia eu quisesse fugir. Ainda me assalta a memória a tua imagem a entrar-me porta adentro, as mãos nos bolsos, a cheirar a tabaco e caipirinhas, a sorrir desajeitadamente. Sei de cor a noite em que fiz duzentos quilómetros para te ver e, sozinhos, lutávamos contra a vontade de nos tocarmos. Pela sua proximidade, repito em silêncio o momento exacto em que senti um clique, em que os teus olhos falaram mais alto que a tua boca, em que os teus beijos eram exactamente aquilo que desejava.

Eu sou toda feita das partes destes homens. Os cheiros deles habitaram-me as mãos e a roupa durante dias a fio, todos ocuparam partes insondáveis do meu coração. Eu sou tudo aquilo que eles me ensinaram, às claras e com a luz apagada, com o seu silêncio ou as suas canções. Venha o que vier, mesmo nos dias em que me sentir mais só, eu sei que alguém já gostou de mim assim. E, mesmo andando há muito a combater esta saudade gigantesca, renova-se em mim um canto a que gostaria de chamar felicidade.

4 comentários:

Anónimo disse...

que lindo, como sempre...

Beijo*

Cromossoma X disse...

Ai isto é tão lindo, tão lindo, tão lindo... correu-me um lágrima. obrigado.

LURBA disse...

Boa noite,
Gostei do blog.
Gostei da sua forma de expressão.
Visitarei mais vezes.

Votos de muitos dias felizes.

maria 3a disse...

acabei de ler aqui o que precisava. encheu-me o pedaço de coração que me falta. obrigada* (vou voltar)