fevereiro 06, 2009

Dia um: a surdez perfeita

O meu coração já não está encarcerado no meu peito, bate por todo o anfiteatro. Há luzes brancas demasiado violentas para manter os olhos abertos que alternam com cores quentes que escorrem dos projectores. A coluna de som que se estende desde o palco é esmagadora, enche todos os espaços vazios e transforma o prazer da música numa sensação real, que se divide entre os arrepios na espinha e o palpitar de zonas do corpo que nem sabemos existir. Das guitarras, soltam-se delicadas nuvens prateadas, estilhaços celestes, pedaços de estrelas feitos das recordações que nos assombram a todos. Aos primeiros acordes de cada música, olha-se para o céu, procurando uma explicação para esta espécie de revelação. E, quando finalmente me estendo na cama, extenuada e satisfeita, sinto prazer no ruído que ainda me resta nos ouvidos. Esta música eleva-me. E faz-me pertencer a qualquer lado.

(os Mogwai tocaram ontem na Aula Magna)

4 comentários:

Crama disse...

Ah também lá estavas!!!

Belo texto! (para não variar, não é?)

K. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
K. disse...

Vês o que eu queria dizer sobre como escreves quando falei contigo noutro dia? Era isto mesmo. Vi-os aqui em Barcelona, numa noite quente e com todos os meus amigos. Tinha consumido demasiado alcool para escrever algo assim depois, mas a sensaçao foi como a tua, de prazer.

Alexandra disse...

Tivesse eu tanto jeito para escrever e o meu comentário ao concerto de Mogwai tinha sido assim bonito.
Mas não tenho. :) hehehe
Também tinha ainda um restía de ruído quando cheguei a casa. Só aquele final, foi um momento completamente feliz na minha existência.
Beijinhos*