Ele pega no livro e lê, pela décima quarta vez, a mesma frase. Um homem só pode ser feliz com a primeira ou com a última mulher. Acena a cabeça quase imperceptivelmente, como se alguém agora pudesse acompanhar este seu gesto. Chegou a casa há poucos minutos e ainda tem a maçãs do rosto frias, imobilizadas pelo vento que fazia entre a casa dela e a sua. Procura estranhamente desinteressado o maço de tabaco e, enquanto revolve os bolsos do casaco que há pouco pousou na cadeira, percebe que ainda é dela o cheiro das suas mãos. Sorri mas é um sorriso amargo. Ela não é a primeira e certamente não vai ser a última. Pergunta-se se um homem não pode ser também feliz com as mulheres que vão ficando a meio do caminho e pára, cigarro por acender na mão, como que fazendo a contabilidade a essas mulheres do meio. Pensa que todas as mulheres que teve se insinuam da mesma forma na sua memória e já não consegue distinguir cabelos, pulsos nus e adornados, armários cheios de roupa, pudores desnecessários, cuidados antes de adormecer.
Mas agora há este cheiro que é ainda mais forte que o fumo do cigarro que acendeu entretanto e ele sente-se tentado a pegar no livro novamente. Um homem só pode ser feliz com a primeira ou com a última mulher. Lê a frase em voz alta, como se a pudesse compreender melhor ouvindo a sua própria voz. E pensa na maneira como a deixou, àquela que brevemente deixaria de ser a sua última mulher, inerte sobre os lençóis em alvoroço, exausta perante o corpo que antes lhe tinha sido oferecido. Imagina-a acordando a meio da noite, uma cama despida da sua masculinidade, pensando que acabara de sonhar até olhar para o cachecol de que ele esquecera à saída. É como se se olhassem nos olhos agora mesmo, pensa enquanto acaba o cigarro. É como se ela pudesse saber que é dela a sua última recordação, como se pudesse voltar a adormecer na certeza de que ele voltaria. Mas ele pega no livro pela última vez esta noite e suspira. Talvez já não se lembre do caminho até casa dela, talvez o cheiro tenha desaparecido pela manhã e as memórias tenham regressado à sua ordem normal. Suspira novamente porque sabe que pode ser feliz. Mas ela não poderá ser a última.
Mas agora há este cheiro que é ainda mais forte que o fumo do cigarro que acendeu entretanto e ele sente-se tentado a pegar no livro novamente. Um homem só pode ser feliz com a primeira ou com a última mulher. Lê a frase em voz alta, como se a pudesse compreender melhor ouvindo a sua própria voz. E pensa na maneira como a deixou, àquela que brevemente deixaria de ser a sua última mulher, inerte sobre os lençóis em alvoroço, exausta perante o corpo que antes lhe tinha sido oferecido. Imagina-a acordando a meio da noite, uma cama despida da sua masculinidade, pensando que acabara de sonhar até olhar para o cachecol de que ele esquecera à saída. É como se se olhassem nos olhos agora mesmo, pensa enquanto acaba o cigarro. É como se ela pudesse saber que é dela a sua última recordação, como se pudesse voltar a adormecer na certeza de que ele voltaria. Mas ele pega no livro pela última vez esta noite e suspira. Talvez já não se lembre do caminho até casa dela, talvez o cheiro tenha desaparecido pela manhã e as memórias tenham regressado à sua ordem normal. Suspira novamente porque sabe que pode ser feliz. Mas ela não poderá ser a última.
3 comentários:
Já tinha saudades de ler devaneios destes na blogosfera. Devaneios literários sacados de uma prateleira de uma estante de livros, livros estes que são endereços web. Gostei muito mesmo.
bom bom bom ... delicioso ...
tão bom... :)
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