Seis e quatro da tarde. Não está calor e guardo o casaco na mala. Já estou quase a enfiar-me na entrada do metro, aquela boca sempre pronta a engolir-nos, nunca exausta ou hesitante. Não percebo sequer como decido. Mas sei que às seis e quatro estou antes a descer a avenida Fontes Pereira de Melo, num passo estranhamente calmo (especialmente para mim), decidida a chegar a casa pelo meu pé. É o Boxer a tocar e abafar o ruído dos carros que, ordeiramente, formam fileiras antes de todos os semáforos por onde passo. Não sei sequer porque regresso a este álbum hoje mas nem sequer me ocorreu que podia ouvir outra coisa. Faz-me lembrar o Verão passado, um momento específico do Verão em que, sentada sobre as ondas da Comporta, penso que podia controlar alguma coisa. Nesse mesmo dia, descubro que não há nada que consiga evitar e espalho-me ao comprido.
Seis e dezoito da tarde. Avanço mais rápida, subindo a Braancamp e cruzando-me com os yuppies que os edifícios à volta parecem cuspir em grupos de três. É isto que queres ser, pergunto-me, um par de pernas preocupado com o próximo corte de cabelo, com o stock de base que teima em nunca chegar e com as próximas férias num sítio onde possa ser vista? E, se este fosse um outro dia, eu diria que sim, que se lixasse o amor e uma cabana, que limparia uma cabeça perdida para as fantasias, que sacrificaria a minha paz de espírito pela paz do meu bolso. Mas somos todos mais ou menos felizes assim, yuppies e eu, nesta rua ou em qualquer outra da City lisboeta.
Seis e trinta e cinco da tarde. Perco a conta às mensagens que já trocámos hoje e aproveito a pausa nos semáforos para lhe responder mais uma vez. Ele faz-me pensar que uma relação poderia subsistir apenas com palavras: uma pontuação cuidada, o estilo sóbrio misturado com a ironia com que ambos aprendemos a viver, histórias que cabem em cento e sessenta caracteres. Sei que está na hora de ele voltar a casa e sei que nos estamos a despedir agora. E sei ainda que estamos condenados a ser apenas isto, duas pessoas que se podiam ter cruzado não fosse esta pessoa aqui ser um poço, um amontoado de incertezas e feridas que custaram o Mundo a fechar. Mas o conforto de saber que ele está sempre ali, sempre à distância da minha mão ou da vibração do meu telefone é desarmante. É como se, esperando e conhecendo o nosso ritmo, pudéssemos atravessar os dois o jardim da Estrela, meio descontentes com o que temos.
Seis e trinta e sete da tarde. Estou em casa, a momentos de saber que janto sozinha. Ainda consigo deixar a janela aberta até aquecer o que quer que seja a que vou chamar jantar. Estamos na Primavera e eu sou toda hormonas. Alguém que me arrebate deste sofá, se faz favor. Ou que me arrebate neste sofá. Ou que venha comigo a pé para casa desde o trabalho. Sem chatices profissionais. Só os dois, a fazer pouco de quem vai enlatado no autocarro em plena hora de ponta. O resto é conversa, prometo.
Seis e dezoito da tarde. Avanço mais rápida, subindo a Braancamp e cruzando-me com os yuppies que os edifícios à volta parecem cuspir em grupos de três. É isto que queres ser, pergunto-me, um par de pernas preocupado com o próximo corte de cabelo, com o stock de base que teima em nunca chegar e com as próximas férias num sítio onde possa ser vista? E, se este fosse um outro dia, eu diria que sim, que se lixasse o amor e uma cabana, que limparia uma cabeça perdida para as fantasias, que sacrificaria a minha paz de espírito pela paz do meu bolso. Mas somos todos mais ou menos felizes assim, yuppies e eu, nesta rua ou em qualquer outra da City lisboeta.
Seis e trinta e cinco da tarde. Perco a conta às mensagens que já trocámos hoje e aproveito a pausa nos semáforos para lhe responder mais uma vez. Ele faz-me pensar que uma relação poderia subsistir apenas com palavras: uma pontuação cuidada, o estilo sóbrio misturado com a ironia com que ambos aprendemos a viver, histórias que cabem em cento e sessenta caracteres. Sei que está na hora de ele voltar a casa e sei que nos estamos a despedir agora. E sei ainda que estamos condenados a ser apenas isto, duas pessoas que se podiam ter cruzado não fosse esta pessoa aqui ser um poço, um amontoado de incertezas e feridas que custaram o Mundo a fechar. Mas o conforto de saber que ele está sempre ali, sempre à distância da minha mão ou da vibração do meu telefone é desarmante. É como se, esperando e conhecendo o nosso ritmo, pudéssemos atravessar os dois o jardim da Estrela, meio descontentes com o que temos.
Seis e trinta e sete da tarde. Estou em casa, a momentos de saber que janto sozinha. Ainda consigo deixar a janela aberta até aquecer o que quer que seja a que vou chamar jantar. Estamos na Primavera e eu sou toda hormonas. Alguém que me arrebate deste sofá, se faz favor. Ou que me arrebate neste sofá. Ou que venha comigo a pé para casa desde o trabalho. Sem chatices profissionais. Só os dois, a fazer pouco de quem vai enlatado no autocarro em plena hora de ponta. O resto é conversa, prometo.
6 comentários:
Curioso, há uns dias também voltei a ouvir o Boxer. E estava com um estado de espírito parecido ao teu, submersa nesse limbo que está tão longe da incandescência como da apatia.
De resto, não prometo companhia no regresso do trabalho, mas já sabes que dou uma apitadela quando tiver ideias para programas fora de casa. :)
Ainda aguardo uma visita à cidade do conhecimento :)
estás preparada para uma afirmação moderníssima?
o teu feed desapareceu do meu reader.
como normalmente te leio por lá, achava que andavas calada há semanas. que era assim uma daquelas fases em que não nos apetece dizer nada.
hummmm
Gosto mesmo de como escreves. Já nao sei que mais dizer-te... a nao ser que gostava de ir a pé para casa desde o trabalho contigo. :)
:D
E eu, que havia de gostar dessa companhia :)
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