Sempre achei que adorava voar. Andar de avião, quero dizer. Digo isto porque na última vez que me vi num Canadair, num voo regional em pleno espaço aéreo alemão, descobri que odeio voar. Nada me provoca tanta ansiedade como estar sentada num avião, sabendo que, se acontecer uma desgraça, não posso simplesmente fugir.
Andei de avião pela primeira vez aos vinte anos, talvez, o que é um pouco tarde para os padrões actuais. É claro que podia dizer que a minha mãe só experimentou voar perto dos cinquenta anos mas enfim, os padrões dela eram outros. Foi no pequeno aeroporto militar de Badajoz e nunca me hei-de esquecer que ainda o avião se fazia à pista e já a minha irmã fechava os olhos, a chorar muito. Repito: o avião fazia-se à pista, naquela marcha lenta, aborrecida - quando começou a ganhar velocidade para levantar foi ainda pior. No regresso, não consegui ouvir durante quase um dia inteiro mas tudo bem: tinha finalmente andado de avião.
Alguns voos depois, esse entusiasmo todo passou-me. Já me encantei o suficiente com as nuvens que parecem algodão doce, com a miniaturas de cidades debaixo de nós, com os cristais que se formam na parte de fora da janela. Continuo a não ser fã da comida de avião (aquelas doses extremamente plásticas e minúsculas), nunca uso a casa de banho no ar e também nunca desaperto o cinto de segurança. Quando pego nos folhetos com as instruções para casos de emergência, rezo sempre para que seja éter a sair das máscaras e não oxigénio - só isso explica a cara alegre dos modelos. Também detesto aeroportos: aquela espera toda suga-me a energia, já para não falar dos controlos sucessivos em que tenho que tirar cinto, botas, abrir mala e deixar examinar leitor de mp3. Também não me agrada que olhem sempre desconfiados para o meu bilhete de identidade, nem lugares longe da janela e pessoas que quase vergam o meu banco para se poderem levantar.
Mas, mesmo depois da perda de alguma pressurização, do medo indizível de cair a qualquer momento, da forma paranóica como analiso todos os sons a bordo, gosto de aterrar em Lisboa - ver a cidade organizada de cima, estender o braço e quase tocar na cúpula da basílica da Estrela, sobrevoar a ponte 25 de Abril. E quando o trem de aterragem toca a pista, não bato palmas, como parece ser costume. Mas rejubilo interiormente - estou outra vez em terra firme.
Andei de avião pela primeira vez aos vinte anos, talvez, o que é um pouco tarde para os padrões actuais. É claro que podia dizer que a minha mãe só experimentou voar perto dos cinquenta anos mas enfim, os padrões dela eram outros. Foi no pequeno aeroporto militar de Badajoz e nunca me hei-de esquecer que ainda o avião se fazia à pista e já a minha irmã fechava os olhos, a chorar muito. Repito: o avião fazia-se à pista, naquela marcha lenta, aborrecida - quando começou a ganhar velocidade para levantar foi ainda pior. No regresso, não consegui ouvir durante quase um dia inteiro mas tudo bem: tinha finalmente andado de avião.
Alguns voos depois, esse entusiasmo todo passou-me. Já me encantei o suficiente com as nuvens que parecem algodão doce, com a miniaturas de cidades debaixo de nós, com os cristais que se formam na parte de fora da janela. Continuo a não ser fã da comida de avião (aquelas doses extremamente plásticas e minúsculas), nunca uso a casa de banho no ar e também nunca desaperto o cinto de segurança. Quando pego nos folhetos com as instruções para casos de emergência, rezo sempre para que seja éter a sair das máscaras e não oxigénio - só isso explica a cara alegre dos modelos. Também detesto aeroportos: aquela espera toda suga-me a energia, já para não falar dos controlos sucessivos em que tenho que tirar cinto, botas, abrir mala e deixar examinar leitor de mp3. Também não me agrada que olhem sempre desconfiados para o meu bilhete de identidade, nem lugares longe da janela e pessoas que quase vergam o meu banco para se poderem levantar.
Mas, mesmo depois da perda de alguma pressurização, do medo indizível de cair a qualquer momento, da forma paranóica como analiso todos os sons a bordo, gosto de aterrar em Lisboa - ver a cidade organizada de cima, estender o braço e quase tocar na cúpula da basílica da Estrela, sobrevoar a ponte 25 de Abril. E quando o trem de aterragem toca a pista, não bato palmas, como parece ser costume. Mas rejubilo interiormente - estou outra vez em terra firme.
3 comentários:
Muita Bom!Delirei..;o)
Jitos,
M
As primeiras quatro vezes que andei de avião não aterrei... e sabes o porquê, não é? E o ir com a porta aberta a meio do voo também não ajudou muito, modernices...
O bater palmas é incrível! Lembro chegar ao Luxemburgo e praticamente todo o avião fazer essa explosão de alegria, satisfação. De regresso a Lisboa ouviram-se tímidos claps... um ou dois.
chorar? eu? quem? oi? num to intendendu...
*whistle*
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