fevereiro 28, 2009

Respect the Zorn! *

Ontem foi mais uma noite de jazz. Tentar absorver tudo o que se passa em cima do palco é um exercício muito estimulante para os sentidos. Tentar isolar os instrumentos, seguir o ritmo, adivinhar para onde está a caminhar aquele som - é música para pensar. Em alguns momentos, pensei que os meus tímpanos não resistiam ao saxofone de John Zorn mas imediatamente me esquecia disso com o abanar de ancas de Cyro Baptista (e a sua incrível parafernália de instrumentos nunca vistos, sempre deixando escapar as suas raízes brasileiras) ou com o som único das TTUKUNAK, que se desdobravam em braços que se lançavam depois sobre a madeira, a pedra e o metal. Parte do público ainda arriscou também a presença no café-concerto para ver o Rodrigo Amado Motion Trio, que não entusiasmaram tanto mas que ainda assim me fizeram vibrar nos momentos de maior caos e turbulência. Continuo a achar que há uma fronteira quase impenetrável a separar-me do jazz mas, quem sabe, um dia eu chego lá.

* e todos os outros músicos que tocaram ou ainda vão tocar no último fim de semana do Jazzfest.

fevereiro 27, 2009

You can't always get what you want *

Tentar repetir a intensidade das coisas é um dos meus maiores defeitos. Supor que me posso afundar no excesso sempre com os mesmos resultados, imaginar que, voluntariamente, perco a lucidez e o discernimento em dias e noites consecutivas - tudo me pesa quando se faz manhã. Devia saber que podemos voltar onde fomos felizes mas nunca onde nos sentimos deliciosamente perdidos.

* e nem sempre conseguir o que precisas.

fevereiro 25, 2009

Ficção #13

Ele entraria porta a dentro, sem trocarmos qualquer palavra. Eu caminharia à sua frente, de cabeça baixa, expectante e trémula. Estaria muito escuro mas a luz não faria falta para que nos pudéssemos ver. Eu conseguiria imaginar-lhe o olhar e ele conseguiria adivinhar-me o pudor. Longos minutos se estenderiam entre o momento em que lhe sentiria a pele macia nos ombros e a tranquilidade com que se deitava ao meu lado. Ele oferecer-me-ia temporariamente o seu coração nómada e eu não faria o esforço de esquecer que um dia já o quisera mais. Olharia para mim quase comovido, apenas por eu ser uma mulher e sorriria docemente, enquanto eu ajeitava o cabelo ao espelho. Soariam as primeiras horas da madrugada, seria a hora de lhe dizer adeus.

Mira el tiempo/Como casi sin querer mueve/El pelo blanco/Que hay entre tu pelo negro/Tu pecho suave y lindo/Huele/A otoño de amor

fevereiro 23, 2009

Bright lights, big city *

You keep thinking that with practice you will eventually get the knack of enjoying superficial encounters, that you will stop looking for the universal solvent, stop grieving. You will learn to compound happiness out of small increments of mindless pleasure.

É aquela sensação repetida vezes sem conta de encontrarmos uma frase, umas linhas que resumem tudo o que se sente no momento. Umas vezes vem em forma de estrofe, outras em forma de final de parágrafo. Tento esquecer-me do que realmente desejo, sou como uma serpente que evita a todo o custo a dor. E deixo que a felicidade se faça desses momentos de prazer descomprometido até ao dia em que me falte outra vez o chão.

* porque não me esqueço do desafio do meu segundo afilhado, ignorando completamente as regras e escolhendo citar Jay McInerney sem qualquer rigor.

fevereiro 22, 2009

Jazz para leigos *

Fotos do Trio Paulo Bandeira por T

É uma questão de me deixar levar pelo ritmo, de sentir nota a nota, de ouvir. É ver como o rapaz do contrabaixo fecha os olhos enquanto deixa os dedos soltos pelas cordas, buscando inspiração num paraíso imediatamente acima das nossas cabeças. É deixar-me ser constantemente surpreendida pelo rumo da bateria, pelo ruído do arame sobre a pele gasta, pelo metal dos pratos marcando o ritmo. E ouvir a guitarra, isolar-lhe os acordes disparados ordeiramente, sentir como vagueia em busca da sequência perfeita. Depois, para me deixar completamente rendida, é ouvir uma versão jazzy da Creep e pensar que às vezes não entendo o jazz mas gosto quando ele me abraça e se insinua, ora de mansinho, ora provocador. E, por minutos, estou mais perto de outro sítio qualquer - o suficiente para saber que ele não me pertence.

* o Portalegre Jazzfest vai continuar no próximo fim de semana no sítio do costume.

fevereiro 21, 2009

Voltar

Regresso do país das salsichas com couve, cremes absurdamente baratos e temperaturas negativas com uma sensação de imenso cansaço. Foram dias feitos de reuniões que se multiplicavam quando menos esperávamos, um intérprete constante dentro da minha cabeça, um cérebro feito em papa pela hora do jantar. Também houve tempo para cozinha internacional (grega, cubana, chinesa e, voilá, alemã!), frio que fazia doer os ossos mas sabia bem e encontros inesperados. Desta vez, conseguimos ver a crise fora de casa, in loco, com os olhos de quem tem que tomar decisões difíceis. A empresa que nasceu numa garagem, que se multiplicou através de edifícios decorados com a maravilha do aquecimento central e onde as chefias continuam a estar incrivelmente distantes dos obreiros diários também sofre do mesmo mal de tantas outras: falta de habilidade na gestão.

Ligamos a televisão no quarto impecavelmente limpo e inacreditavelmente silencioso e o mundo real ataca-nos em todos os canais. A internet está por todo o lado mas precisamos de dados, precisamos de controlo e de disciplina, precisamos de saber porquê. Os preços são escandalosos quando comparados com este lado, os litros de café que mantém este país acordado resumir-se-iam a duas bicas no lado de cá. Consigo corar em cada departamento, outras caras associam o meu nome à minha cara envergonhada, já falámos antes, não é?, o meu e-mail corre entre aquelas bocas.

Não houve tempo para corridas nem para pensar duas vezes no que estava a comer. Em contrapartida, caminhou-se depois de jantar, elevando a voz mais do que é aceitável para a vizinhança de uma aldeia minúscula. Aproveitou-se o tempo livre para exercitar a imaginação, brincando com palavras e com coisas que nunca foram ditas. A minha imaginação leva o seu tempo e precisa dos seus floreados. Com estes pequenos-almoços, edredons, tempos mortos e ausência de despesas, vivam as viagens em trabalho.

fevereiro 15, 2009

Em jeito de despedida...

... deixo-vos coisas doces, porque os olhos também comem. Este conjunto de fondue para chocolate provou ser umas das melhores ideias deste Natal! Daqui a dez horas, estarei a embarcar para um sitio onde estarão menos trinta graus do que na soalheira Lisboa e onde falar português será uma miragem. Vou tratar de arranjar mais uma rodada disto para me consolar em antecipação. Até breve!

Coisas das quais não me consigo cansar

Eléctricos cheios de turistas de manga curta e casais que levam consigo tudo que têm na vida, para se mudar quem sabe para que buraco. Turistas com caixas de bolos da pastelaria Nita, que experimentam várias variedades e gostam de todas. Velhos que param à vista de uma grua ou qualquer outra maquinaria pesada, abanando a cabeça em sinal de aprovação. Vendedores de castanhas que, depois de limparem o seu carrinho, entregam o resto do charro que estavam a fumar ao segurança da estação do Rossio. O rio Tejo, calmo como um gigantesco lençol azul que se estendeu um dia entre margens. Casais que vão juntos ver o rio. Os primeiros sinais de Primavera. As esplanadas da rua Augusta, com os seus preços inflacionados e clientes sem pressa. O Bairro Alto antes da meia noite.

fevereiro 14, 2009

Pequenas lágrimas* para gente sentada

Era uma amena noite de sexta-feira. Supersticiosos diziam que podia ser uma noite de sorte ou uma noite de muito azar mas eu, céptica que sou, tive apenas uma noite muito agradável. Os cavalheiros ingleses também conhecidos como Tindersticks espalharam classe pelo Coliseu, satisfizeram toda a gente quando tocaram a Jism e acabaram com uma música que me chegou há anos numa cassete vinda directamente de Aveiro, que me queria mostrar música com borboletas. O senhor Staples continua, como diz um amigo meu, a cantar com o corpo todo, deitando cá para fora o sofrimento em golfadas ora eléctricas, ora doces. À parte da loura que estava na fila atrás da nossa que falava como se estivesse no café, mascava a pastilha de boca aberta e estava imensamente aborrecida por estar ali, foi muito bom. Este concerto com umas mesinhas, abajours vermelhos de luz trémula e copos altos de vinho tinto tinha sido perfeito. Ou isso ou sim, estamos a ficar velhos. O senhor Staples é que não.

* fazem(-me) um oceano.

fevereiro 13, 2009

82% de liderança

Hoje há uma pequenina parte de mim que gritava se a deixassem. Que semana de preparativos e situações inesperadas e trabalho esta! Tenho os ombros tão tensos que parece que tenho um cabide em vez de um pescoço e tento aliviar-me através da auto-massagem constante. Falhei compromissos que gostava de ter cumprido, marquei outros que espero vir a cumprir, falei muito sobre as primeiras férias deste ano. Se fechasse os olhos neste instante, sei que não recusaria já dormir. Não uma noite seguida, que isso não me está destinado, mas pelos menos umas quatro horas consecutivas sem pestanejar nem ser incomodada pela bexiga.

Hoje estou cansada e isto não é propriamente uma notícia de última hora. Com o departamento inteiro em alvoroço, as pessoas que queremos que fiquem e as que precisamos dispensar, os boatos e as conversas pouco esclarecidas, o panorama geral assim que ligamos a televisão - tudo a ajudar para que eu queira dormir e só acordar depois da crise ter passado. Como é que me posso esquecer que os meus assistentes têm uma vida, que o meu não é uma catapulta para um oceano ainda maior de incerteza? Como é que me posso esquecer que a minha vida não é a gestão, mas sim as palavras? Há tantas coisas que queria dizer a tanta gente mas não posso. Não dá. Não convém. Não devo. Não qualquer coisa, que isto é uma intrincadíssima teia de pressões sociais. Num mundo ideal, escrevia todos os dias, saber fazer apenas isso. E em vez de dar aos outros formações, feedback ou atenção, dava-lhes palavras. E com elas, matéria para imaginar. Mas não, não é o mundo ideal, como me disseram hoje na minha avaliação. Há-de ser sempre assim, também me disseram. Mas se eu acreditasse nisso, já tinha fugido daqui.

fevereiro 11, 2009

Av. Álvares Cabral, seis e um quarto

Cinco miúdos, com não mais que quinze anos, rodeiam um senhor barbudo e de muletas que soluça encostado a uma parede, como se estivesse perdido. Parecem tentar consolá-lo, ajudá-lo, mantê-lo calmo mas ele continua encolhido. Trabalhadores da construção civil descem a avenida aos três e quatro de cada vez, cheirando ao sabonete que deixaram para trás, trancado num cacifo. Têm pressa para voltar a casa, talvez porque querem ver futebol ou porque marcaram uma cerveja às sete e um quarto. Nas mãos, trazem as marmitas vazias que todas as manhãs passam para as mãos das mulheres e que despejam a meio do dia sem sequer pensar. Bandos de meninas do liceu Pedro Nunes espalham-se pelo passeio, divididas entre o cigarro furtivo e os auriculares que teimam em cair. São imagens decalcadas de um modelo primordial, cedendo à pressão de pertencerem a algum grupo, ansiosas por crescer em tempo recorde. A meio da avenida, uma galeria subsiste e com ela uma rapariga que parece ter sempre frio, rodeada por todos aqueles quadros e todos os dias vidrada no computador. Os meninos que saem do liceu sentam-se num café, dividem garrafas de cerveja, conspiram animadamente dentro das suas camisolas de rugby.

Passam vinte e dois minutos das seis e uma rapariga com o casaco abotoado até acima sobe apressadamente a avenida. Vai ouvindo uma bulería e tentando conter-se para não desatar a sapatear a cada dois segundos. É o segundo dia em que consegue sair do escritório de dia e o céu está limpo. Tem um texto para escrever mas já sabe há muito onde irá buscar a inspiração masculina. Os dias tocam-lhe apenas superficialmente, as noites servem-lhe (como deve ser) para sonhar.

fevereiro 09, 2009

O filho que nunca fui

O meu pai gostava que uma de nós fosse advogada e a outra engenheira. Não exactamente por ordem mas era com isto que ele sonhava. Além disso, ele também gostava de ter tido um filho. Ele nunca o disse nem nunca demonstrou um pingo de amargura por só ter duas miúdas, por lhe faltar a companhia de outro homem em casa. Mas que gostava de um pilas, gostava.

Portanto, não estranho quando ele me chama para ajudar nos momentos de bricolage. Ele sabe que sei distinguir entre uma chave inglesa, um busca-pólos ou uma chave Philips. E sabe que me ajeito a ler livros de instruções, a montar móveis e a medir caixilhos. Para as necessidades, deixou-me aqui em casa uma mini caixa de ferramentas para que me possa sempre desenrascar. E também é normal que ele comente os jogos do Benfica, jogada a jogada. Que aquele não sobe, que o outro não recupera depois do ataque, que o não sei quantos não vira o flanco. Irrita-se com as borboletices do Nuno Gomes e a atrapalhação do Luisão e nem sei se gosta do treinador. Muitas vezes não entendo do que está ele a falar (então mas aquele gajo agora é médio ofensivo?) mas consigo safar-me. Não o suficiente para brilhar noutras conversas, mas o suficiente.

E ontem, quando montámos a box lá em casa, faltavam as soluções para a manter funcional - cesto da roupa e caixote sobre banco e cadeira, check. E não consegui evitar os comentários sobre as perdas de bola e sobre as substituições tardias. Por isso, e com esta pesada herança genética, fiquei um bocadinho aborrecida com o jogo, porque não é preciso ser um génio para compreender que aquilo foi uma roubalheira. Ainda hoje, dizia o meu pai ao telefone Tu viste-me bem aquilo? Na cara do árbitro? e eu sorri e concordei com ele.

fevereiro 08, 2009

Dia 3: neuras de Sábado à noite

Não é que eu odeie quando o plano não dá certo. O que me irrita mesmo é quando o plano nem sequer vai para a frente, quando toda a sequência que imaginámos é interrompida inesperadamente e ficamos a meio, sem saber muito bem o que fazer. Ontem aconteceu exactamente isso e eu fiquei a dever uma noite a mim mesma, fechada no quarto, sem ler nem ver filmes, sem beber cerveja excessivamente gelada ou ouvir o rock fracturante dos anos setenta. Em compensação, ganhei horas de conversa da tanga, ouvi e disse coisas que só mesmo são permitidas num Sábado à noite, coisas de corar mas de dormir mais tranquila. Há uma espécie de laço invisível a unir as pessoas que resolvem não sair ou não querem distrair-se sozinhas, uma espécie de compreensão implícita, um acordo tácito que selamos a partir do momento em que admitimos que estamos sós. E o que vem depois disso... Bem, depois disso as quatro da manhã são o limite. O que se pensa antes de se adormecer fica apenas entre nós.

(os peixe:avião tocaram ontem no CAEP e eu não fui)

fevereiro 07, 2009

Dia 2: a sensualidade de um falsete

Ele aquece as hostes apenas com uma guitarra, algumas piadas em que mistura o inglês com o francês e um ritmo que lhe sai principalmente das ancas inquietas. Muitas vezes não canta, é mais um sussurro aquilo com que beija o microfone - um falsete rouco e suave. Quando ela entra em palco sente-se um equilíbrio: a doçura dela encanta, a vitalidade dele prende. Talvez à segunda ou terceira música, ela descalça-se e caminha delicadamente enquanto faz desfilar um conjunto de êxitos inesperadamente alterados. Durante quase duas horas, ouvimos o som das cigarras numa cálida noite de verão, as tristezas dos outros cantadas com uma candura natural, com uma simplicidade desarmante. Eu, que nada de particular esperava, saí de lá com um grande sorriso interior. Há um tempo para os desgostos e um tempo para mandarmos tudo à fava. Ontem foi dia de não pensar e de me deixar conquistar. Está quase.

So in a manner of speaking/I just want to say/That just like you I should find a way/To tell you everything/By saying nothing.

(os Nouvelle Vague tocaram ontem no CAEP)

fevereiro 06, 2009

Dia um: a surdez perfeita

O meu coração já não está encarcerado no meu peito, bate por todo o anfiteatro. Há luzes brancas demasiado violentas para manter os olhos abertos que alternam com cores quentes que escorrem dos projectores. A coluna de som que se estende desde o palco é esmagadora, enche todos os espaços vazios e transforma o prazer da música numa sensação real, que se divide entre os arrepios na espinha e o palpitar de zonas do corpo que nem sabemos existir. Das guitarras, soltam-se delicadas nuvens prateadas, estilhaços celestes, pedaços de estrelas feitos das recordações que nos assombram a todos. Aos primeiros acordes de cada música, olha-se para o céu, procurando uma explicação para esta espécie de revelação. E, quando finalmente me estendo na cama, extenuada e satisfeita, sinto prazer no ruído que ainda me resta nos ouvidos. Esta música eleva-me. E faz-me pertencer a qualquer lado.

(os Mogwai tocaram ontem na Aula Magna)

fevereiro 04, 2009

One down, six to go

Desconfio muitas vezes que não fui talhada para o poder. Nem mesmo quando me lembro do que escreveu alguma professora na minha primeira ou segunda classe num boletim de avalição - A M. é a líder da sala. Balanço, muitas vezes incompreensivelmente, entre o autoritarismo e um coração de manteiga, entre o punho de ferro e a lágrima fácil. Sou uma pessoa de pessoas e acho que só isso justifica ter chegado onde estou - não os números, não a visão a longo prazo e muito menos a frieza. A piorar as coisas, acho que estabeleci padrões de desempenho muito elevados para mim, o que me leva a esperar o mesmo dos outros. Um erro, portanto.

Ontem, a minha chefe comunicou a alguém que não iríamos renovar o seu contrato. Faltam mais seis pessoas receberem uma notícia semelhante e, provavelmente, vai-me ser destinado o papel de mensageira. Com nenhuma das pessoas estabeleci uma ligação especial, pessoal ou profissionalmente. Mas isso não me impede de me lembrar do dia em que me mostraram a fotografia das filhas, das prestações da casa que ainda têm por pagar, do casamento que há muito anda a ser adiado. Não é tempo para hesitações e muito menos sentimentalismos, diria a minha chefe. Mas se isso é verdade, se é apenas isto que é esperado de mim - um punhal inevitável chamado negócio -, porque sinto eu que me vai custando cada vez mais dormir?

(não quero ser uma mercenária dos sonhos dos outros. quero fazê-los sonhar)

fevereiro 02, 2009

Uma mão cheia de anos

São já cinco... Há cinco anos que escrevo um diário, sem necessidade de folhas perfumadas ou um cadeado a separar as minhas palavras do Mundo. Quando leio o que está para trás, vejo-me crescer, tenho vergonha, sinto saudades. Nunca pensei verdadeiramente em deixar de escrever aqui, apenas me aterrei perante a possibilidade de não ter mais nada para dizer. Como por enquanto me vão sobrando as palavras, agradeço a quem me visita por me ler as neuroses, comentar as tontices, por me acompanhar enquanto faço o caminho. Se for tão bom para vocês como é para mim... Então são mais cinco anos, se faz favor!

Ler o jornal

E, ouvindo apenas o vento que desequilibra o carro, sentir que estou sentada no topo de um mundo, aguardando autorização para descolar. Encontrar o silêncio que desconhecia precisar e disfrutar dele. Dentro deste habitáculo, não se ouve mais que a minha respiração e a dança irrequieta do vento em torno dos eucaliptos. Com a chuva constante, rebenta o verde que descansa todo o ano debaixo da fina camada de terra, ganham vigor as nascentes cristalinas. Aos nossos olhos, estas nuvens existem desde sempre. E esta ausência de palavras, uma mulher dentro de uma máquina, nasce da opressão do cinzento.