setembro 22, 2008

Adivinha o que fiz na noite passada ii *

Ainda não tinha tido coragem para lhe visitar a campa. Ele, tão dedicado às amizades, jazia agora entre os seus amigos eternos numa esquina de onde conseguiria, se pudesse, ouvir o eléctrico. Foi numa noite em que caminhava meio absorta até ao momento em que julguei ver o nome dele escrito a neon sobre uma montra desactualizada. Mais acima, duma janela aberta num terceiro andar, fixava-me uma rapariga de vestido amarelo e cabelo curto que parecia dizer o seu nome. Xavier, dizia ela baixinho.

Enquanto avançava entre os jazigos de família, sob os candeeiros de ferro forjado que ornavam o caminho, ouvi o sotaque francês de um casal de meia idade. Ela vestia vermelho e ele dizia-lhe que odiava o cheiro a caril que se sentia por toda a parte. Abrandei o passo quando cheguei aos mosaicos gastos e ouvi a gargalhada fresca de uma rapariga. Ele gostava de me ver rir, pensei eu. Mas a minha cara não correspondeu a este pensamento porque reparei na expressão de pena de um rapaz sem braço que também caminhava por ali.

À porta do cemitério, nada mais que uma fila ordeira de carros, a fachada impecável do hotel e o grafiti espalhado por todo o lado. Podia estar triste mas sei que ele não me queria assim.

* de caneta em punho, em plena praça, a tentar absorvê-la. Confundida com a polícia, tento demonstrar a minha habilidade em trabalhos manuais, criando uma flor cubista. As horas ali não passam, é como se ainda fosse pedir para ficar mais um pouco, só mais dois ou três momentos de total distracção, de total fantasia. Deixo a vida à porta e recrio-me outra vez.

5 comentários:

Vitor Hugo Azevedo disse...

hoping you're ok.

Anónimo disse...

escreves muito bem, miuda :)

Luísa Cê disse...

adoro o que escreves.. :)

K. disse...

:)

Sempre um prazer vir aqui.

M. disse...

Awwww you're too kind :D

Estou a praticar. Quando chegar é que vai ser ;)