setembro 18, 2008

Adivinha o que fiz na noite passada *

Senti sobre mim o peso dos lençóis de veludo. Há três noites que não consigo dormir, repetindo em silêncio a imagem da estrela do mar que ela deixara na soleira. À esquerda do quarto, o irrequieto cardume embate, como que embriagado, contra as paredes do aquário. Sou como todos os homens que deixam que os amores os consumam.

Levantei a cabeça da almofada, o corpo da cama e encostei o sono no parapeito da janela. Nada mais que silêncio, nem mesmo o carrossel da praça conseguia ouvir. Na cozinha, senti o cheiro do ramo que jaz naquele jarro velho e que nunca consegui entregar-lhe, não depois de os saber enamorados, crescendo como um par. E naquela noite, com a cabeça debaixo das estrelas, chorei outra vez.

* era um terceiro andar com vista para uma nesga de Tejo, onde se chega num elevador que só transporta duas pessoas. Demasiado perto uma da outra. Sete cadeiras ocupadas, dezenas de post-it nas paredes, um bule quente com chá. Um sofá apenas, iluminado propositadamente com um candeeiro de leitura. Centenas de palavras bailando na minha cabeça e o pior dia do Mundo acabava da única maneira que sei ser feliz.

5 comentários:

Maria del Sol disse...

Até os piores dias podem ter partes boas. É tão bom reencontrar a tranquilidade dos pequenos prazeres e poder respiara de alívio... :)

Maria del Sol disse...

*respirar (lapso)

A disse...

Queria dormir... queria dormir como tu... com uma tranquilidade que me fizesse suspirar a cada dez minutos... queria olhar pela janela e ver luz lá fora... não pela beleza mas pela necessidade... Obrigado pela visão...

K. disse...

Apetece submerger-me nestas palavras como um pèixe no aquário que mencionas...

Anónimo disse...

que bom ler a tua experiência da Escrever Escrever. O sofá, a nesga de rio e os meus olhos e ouvidos estão sempre à tua disposição, com muito gosto. Até breve!sao