setembro 09, 2008

Alentejo, meu amor

Estar de férias desta vez tem um sabor peculiar. Cumprindo instruções pouco precisas e, finalmente, dando ouvidos àquela vozinha cá dentro, obriguei o meu pai a deixar o sofá nesta manhã pouco convidativa e fomos passear. Caminhar deve ser mais o termo, foi unir o esforço aos caminhos que nunca me tinham sido revelados. Fui ouvindo as histórias sobre o Rosal, sobre o feijão com couve e ossos da assuã que se comem por aí, sobre um homem que oferece pão a meio de caminhadas destas.

Prometi a mim mesma que voltava a este caminho para apanhar amoras, tão maduras naquelas silvas, tão entregues a si mesmas neste resto de calçada. Há coisas que resistiram ao tempo, muros que se mantiveram de pé, um menino de olhos grandes numa casa no meio do nada. Chegamos a casa suados e um vizinho diz que se tem que caminhar assim mais vezes. Habituava-me a estes gafanhotos imprevisíveis, às moscas por todo o lado, aos figos a largarem vagarosamente as figueiras. Houve um tempo em que não existia mais nada. Regresso a esse tempo enquanto caminho e acabo deitada debaixo de uma figueira, o eco do poço como única companhia. É o único sítio do Mundo onde o tempo teima insistentemente em não passar.

3 comentários:

K. disse...

:) É bom quando o tempo se nega a passar. Aproveita. Beijo.

Maria del Sol disse...

Quase se pode sentir o cheiro do ar do campo ao ler as tuas palavras. Bom descanso! :)

Anónimo disse...

Amoras...trazem-me tantas recordações...há uns bons anos atrás passei tardes inteiras a comê-las, em lugares que mais ninguém conhecia (ou pelo menos era o que eu achava). Tardes de gargalhadas e que terminavam com as mãos e as unhas pretas. pronto, acabaste de me deixar com um grande sorriso na cara... e com uma vontade de comer amoras... :)